Certo
dia folheando curiosamente um livro sobre filosofia encontrei essa carta descrita abaixo enviada
para uma garota sortuda chamada Maria da Gloria. Esta carta foi lida e relida
por mim com o intuito de entender inúmeras coisas a respeito da vida, os
contratempos e os tempos que enfrentamos ao longo dos dias. O conteúdo da carta
inicia-se assim:
“agora,
que chegaste à idade avançada de quinze anos, Maria das Graças, eu te dou este
livro: Alice no país das maravilhas. Este livro é doido, Maria. Isto é:
o sentido dele está em ti. Escuta: se não encontrares um sentido na loucura
acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este
livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive
as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre
milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca”.
(p.295, 1996, Mendes, Paulo Campos).
Loucura,
vida, realidade, sentido, saída, chaves e manual. Essas sete palavrinhas soavam
para mim como um quebra cabeça a ser montado e um mistério a ser desvendado.
Superficialmente pensando, existem tantos presentes para serem ofertados a uma
garota de 15 anos, na flor da idade, e essa moça torna a clássica obra de Lewis
Carroll em o mais e digno presente para a ocasião. Curiosamente fui reler essa
obra para tentar entender e descobrir junto com Alice e Maria da Gloria onde
estavam essas chaves tão especiais.
Embarquei
na loucura do autor e mergulhei no universo fantástico que tem como fio
condutor uma garotinha chamada Alice, ela encontra no caminho diversos
personagens e sem carruagens percorre um longo caminho até encontrar a sua
essência.
A
história começa com um fato bem corriqueiro, Alice em um súbito momento de
tédio e curiosidade decide seguir um coelho que passa apressado e carrega no
bolso um relógio. Ela desbrava o jardim de casa e persegue o coelho até cair em
um profundo buraco. A queda é lenta e brusca, porém a forte Alice não se
machuca. Primeira pausa, quantas vezes estamos cheios de tédio e de repente
algo inusitado nos prende de tal forma e largamos tudo para seguir adiante sem
se quer imaginarmos onde nos levará essa escolha? Pela lógica, sair do
convencional, para muitos, significa se jogar no abismo e esse abismo muitas
vezes significa o fim do poço. Pois bem, nem sempre é assim, viu desavisados?
Esse poço/toca pode ser a primeira chave para “o país das maravilhas”.
Seguindo
a diante para não perder de vista a linda garotinha prossigo alertando que a
mesma não se machucou com a brusca queda na toca do coelho, isso mesmo, ela não
se machucou, levantou rapidamente e logo foi analisar onde tinha ido parar.
Assim como nós, a doce Alice deparou-se com varias portas ao seu redor e apenas
uma chave. Assim como nós a mesma queria saber qual delas abrir. Escolher nem
sempre é algo fácil num mundo cheio de tentações e emoções. Aiai...
Após
efetivar a sua escolha Alice depara-se com o primeiro problema, a chave que ela
tem é para uma porta que não passa nem seu dedinho mindinho. Isso a deixa
desesperada, você logo conclui, não é mesmo? Não exatamente, Alice demonstra
seu primeiro sinal de serenidade: ela encontra ali um álibi para seguir a
diante: um líquido para reduzi-la de tamanho. Ai eu pergunto: quantas pessoas
querem reduzir de “tamanho” na vida? Quantas pessoas abrem mão do que já possui
para desfrutar de novas coisas? Isso é algo muito difícil, ainda mais no mundo
em que vivemos onde quem tem mais, quem é mais forte é sempre o mais poderoso perante
a sociedade. Pois sim, a mocinha toma o liquido e reduzida de tamanho passa
pela porta a fora e da de cara com um belo jardim. Quando a gente pensa em
reduzir de tamanho, surge logo a certeza de que o que virá adiante são coisas
pequenas e sem valor, não, nem sempre é assim, ser pequeno muitas vezes é
necessário, pois, só assim a gente consegue enxergar a grandiosidade que a vida
tem, só assim a gente consegue olhar ao redor e ver que tem muitas outras
coisas maiores que a gente. Nós somos tão “pequenos” perante as grandezas da
vida!
O
jardim, o mais inusitado jardim da face da terra convida Alice a desvendar seus
mistérios e mudar de tamanho quantas vezes for preciso. Ela humildemente e sem
pestanejar aceita tudo e continua a busca pelo coelho apressado. E nós o que
temos a ver com esse coelho apressado? Olha, se analisarmos nós passamos dias e
horas e horas e dias em busca desse coelho, corremos e corremos e corremos
atrás desse objetivo que temos a alcançar. Corremos tanto e nem nos damos conta
de quantas coisas encontramos no caminho, de quantas pessoas importantes estão
nos amparando e ensinando porque temos que correr e correr para não perdermos
de vista o nosso “coelho”. Parem, respirem e obsevem essas conquistas, pois se o
coelho for nosso ele nos esperará mais adiante independente do quanto ficaremos
ali apreciando as outras coisas. Nós o encontraremos sem pestanejar.
O
que ela nem imaginava era que entrara em outro mundo. Um mundo incrível onde os
animais podiam falar. Falava com rosas e outras formas animadas. Ali conheceu
uma lagarta conselheira; um exército de cartas, contra o qual teria que
combater; o gato alegre, sempre a sorrir, que aparecia e desaparecia; e o
chapeleiro maluco. Quantas rosas nós encontramos no caminho, inúmeros exércitos
para combatermos e lutarmos a cada amanhecer, aquele amigo alegre que mesmo
presente e ausente, pertinho e distante existe para alegrar o nosso dia, ah o
chapeleiro maluco, tão confuso, tão amigo e conselheiro sempre disposto a
ajudar pequena e grande Alice: Chapeleiro, você
me acha louca?
Chapeleiro: Louca, louquinha! Mas vou te contar um segredo:
as melhores pessoas são.Ou seja, quem não quer um conselheiro desses? Eu tenho
os meus e se conselho for bom te digo: PROCURE O SEU!
Quantas
vezes acordamos e temos certeza de quem somos, mas ao longo dia mudamos de
opnião: Alice retrucou, bastante timidamente: "Eu - eu não sei muito bem,
Senhora, no presente momento -pelo menos eu sei quem eu era quando levantei
esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então."
Normalllllllllllllllllllllllll... absolutamente normal sentirmos isso. Somos
volúveis mesmo, somos vuneraveis também, somos seres humanos e recheados de
personas e mais personas. Porque temos que seguir em uma linha reta, tênue,
quando na verdade queremos e somos tantas coisas. Afe, por isso decidi ser
atriz, ser Karla só não me basta, quero ser Amelia, quero ser donzela, quero
ser criança, quero ter esperança, quero dançar e cantar, pular e deitar, quero
ser feliz e até mesmo chorar. Chato seria se fossemos sempre a mesma pessoa.
Que bom que hoje me deito triste e amanha posso acordar absurdamente feliz!
Ufa!!!
Nesse
percurso mágico Alice se depara com suas próprias lagrimas trazendo para si
malefícios absurdos, afinal ela estava tão grande agora a pouco e de repente
encolheu de novo para pular mais uma etapa de sua jornada que nem se deu conta
de que seu choro poderia afoga-la, ela diz:
Já
disse isso para mim mesma diversas vezes: Gostaria de não ter chorado tanto!
Parece que vou ser castigada por isso agora, afogando-me nas minhas próprias
lágrimas!
Eita,
nós deveríamos nos dar conta disso, não é mesmo? Lagrimas faz bem, tudo bem,
lava a alma, mas às vezes cautela é de suma importância para não nos afogarmos
em nossos exageros e desesperos. Talvez por isso não choro há séculos, não vou
mentir que as vezes desejo uma lagrimazinha se quer percorrendo minha face, mas
uma cachoeira prestes a me afundar e me anular? Ops, isso não, não! Passo sebo
de cachorro nos lábios, uma Fátima nas unhas e sigo adiante!!!
Olha
a baita lição de moral que esse coelho safado me deu: Alice pergunta: quanto
tempo dura o eterno? O coelho responde: as vezes apenas um segundo. Verdade, um
segundo é muito tempo, muitas vezes o suficiente para nos ensinar que nem tudo
é para sempre, que o tempo não pode durar o tempo que nós queremos, pois tudo
tem seu tempo. As histórias curtas também tem significado, assim disse o coelho
para Karla Cajaiba.
Calma,
calma e calma, quantas vezes precisei da calma e ela fugia de mim. Mas Alice
ouviu: Ah, minha querida! Que isto lhe sirva de lição: nunca perca a sua calma!
A calma é alma do negocio, entenda isso, sem calma a alma apodrece.
Penso como Alice: Como gostaria que as criaturas não se
ofendessem tão facilmente
Com o tempo você se acostuma. — disse a Lagarta. Vou ser bem sincera, tá ai uma das coisas que não me acostumo, as ofensas desnecessárias que só inflamam as relações humanas, banalizando-as cada vez mais. Não concordo Largata. Nananinanão.
Com o tempo você se acostuma. — disse a Lagarta. Vou ser bem sincera, tá ai uma das coisas que não me acostumo, as ofensas desnecessárias que só inflamam as relações humanas, banalizando-as cada vez mais. Não concordo Largata. Nananinanão.
Alice diz: Não é que eu goste de complicar as coisas, elas é
que gostam de ser complicadas comigo.
Linda! Amo essa frase, de fato as coisas sempre se enrolam para meu lado...
Curtos caminhos nunca foram minha primeira opção... Tentarei descomplicar os
rumos do meu mar.
Ficou
ali sentada, os olhos fechados, e quase acreditou estar no País das Maravilhas,
embora soubesse que bastaria abri-los e tudo se transformaria em insípida
realidade… Realidade, sobre a realidade costumamos dizer para nós mesmas e
também para os outros que ela é dura. Quimicamente impossível afirmamos isso,
afinal realidade é algo abstrato e nós não podemos mudar o sentido das coisas.
Ou será que podemos e Real + idade pode muito bem significar, mudando a ordem
das letras e eliminando outras, em IDEAL? Sim, pois ideal é que cada um viva a
sua realidade. Então a minha real idade é viver o que me cabe nessa cidade.
Ah,
falando em realidade, hoje ou amanhã você pode deparar-se com a seguinte
questão: “Estou diminuindo de tamanho de novo”-disse Alice. Sim, você pode e deve
diminuir de tamanho sem medo, afinal assim como a garotinha de Carroll você
também encontrará cogumelos para te fazer aumentar de tamanho, nesse caso cabe
a situação e a atual realidade você estar ou não maior do que deveria, cabe a
ti escolher, ou não, o tamanho certo do cogumelo para não pecar na dose e
sofrer as consequências a diante. Lembre-se das lagrimas exacerbadas da doce
menina, elas quase à afundam. Sempre tem o amanhã, poupe, guarde-se e tudo
chegará.
Alice,
após sua viagem no mundo das maravilhas, voltou com a cuca fresca para tomar
suas decisões, então mergulhe, se entoque, se jogue, navegue, erre, transcenda
e ascenda todas as luzes do caminho porque assim fica mais fácil para encontrar
cogumelos, enxergar o buraco das fechaduras, decifrar um gato, boiar em suas
próprias lagrimas e assim sair ileso de uma queda de metros de altura!
Eu
poderia passar horas descrevendo fatos e metáforas por ai a fora vistas e
descritas no mágico mundo de Alice criado ou descrito por Carroll, mas me
detenho a finalizar com alguns comentários ainda pertinentes a vida alheia.
Voltando a carta ofertada gentilmente para Maria das Graças:
“toda pessoa deve ter
três caixas para guardar humor, uma caixa grande para o humor mais ou menos
barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa media para o humor que
a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires
de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes
ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios
de dor ou vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou
triunfamos, em que nos sentimos uma droga ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com
as grandes ocasiões”. (p.296, 1996, Mendes, Paulo Campos).
Não
gosto de livros e palavras de autoajuda, serio, não gosto mesmo, essa historinha
de ler esse tipo de livro para sair da pior nunca foi meu forte, o que eu gosto
mesmo é de apreciar e analisar as diversas formas de artes que são capazes de
nos curar e libertar. Quando sentir-se triste, leia, pinte, cante, dance,
interprete, corra mais não morra. A vida é tão bela e têm tantos gatos,
coelhos, rainhas, cartas, bules, jardins, chaves e portas para apreciarmos.
Escrevi demais, não foi? Juro que só mais essa frase para finalizar: “a própria
dor deve ter sua medida: é feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a
fronteira de nossa dor, Maria das Graças”.
Por
que eu escolhi essa obra de arte como resposta para minhas indagações? Ah, sim
claro, digo: E lá tem motivos para escolher falar sobre essa menina que vive no
mundo dos sonhos, da ilusão, da diversão, da fantasia, da magia, da alegria,
das encolhidas e esticadas? Claro que não! Essa obra é fantástica, darei um
jeito de diminuí-la de tamanho e coloca-la no bolso para que ela esteja sempre acessivel.