segunda-feira, 11 de novembro de 2013

"É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira da dor, Maria da Graça!"





Certo dia folheando curiosamente um livro sobre filosofia encontrei essa carta descrita abaixo enviada para uma garota sortuda chamada Maria da Gloria. Esta carta foi lida e relida por mim com o intuito de entender inúmeras coisas a respeito da vida, os contratempos e os tempos que enfrentamos ao longo dos dias. O conteúdo da carta inicia-se assim:


“agora, que chegaste à idade avançada de quinze anos, Maria das Graças, eu te dou este livro: Alice no país das maravilhas. Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti. Escuta: se não encontrares um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca”. (p.295, 1996, Mendes, Paulo Campos).


Loucura, vida, realidade, sentido, saída, chaves e manual. Essas sete palavrinhas soavam para mim como um quebra cabeça a ser montado e um mistério a ser desvendado. Superficialmente pensando, existem tantos presentes para serem ofertados a uma garota de 15 anos, na flor da idade, e essa moça torna a clássica obra de Lewis Carroll em o mais e digno presente para a ocasião. Curiosamente fui reler essa obra para tentar entender e descobrir junto com Alice e Maria da Gloria onde estavam essas chaves tão especiais.

Embarquei na loucura do autor e mergulhei no universo fantástico que tem como fio condutor uma garotinha chamada Alice, ela encontra no caminho diversos personagens e sem carruagens percorre um longo caminho até encontrar a sua essência.

A história começa com um fato bem corriqueiro, Alice em um súbito momento de tédio e curiosidade decide seguir um coelho que passa apressado e carrega no bolso um relógio. Ela desbrava o jardim de casa e persegue o coelho até cair em um profundo buraco. A queda é lenta e brusca, porém a forte Alice não se machuca. Primeira pausa, quantas vezes estamos cheios de tédio e de repente algo inusitado nos prende de tal forma e largamos tudo para seguir adiante sem se quer imaginarmos onde nos levará essa escolha? Pela lógica, sair do convencional, para muitos, significa se jogar no abismo e esse abismo muitas vezes significa o fim do poço. Pois bem, nem sempre é assim, viu desavisados? Esse poço/toca pode ser a primeira chave para “o país das maravilhas”.

Seguindo a diante para não perder de vista a linda garotinha prossigo alertando que a mesma não se machucou com a brusca queda na toca do coelho, isso mesmo, ela não se machucou, levantou rapidamente e logo foi analisar onde tinha ido parar. Assim como nós, a doce Alice deparou-se com varias portas ao seu redor e apenas uma chave. Assim como nós a mesma queria saber qual delas abrir. Escolher nem sempre é algo fácil num mundo cheio de tentações e emoções. Aiai...

Após efetivar a sua escolha Alice depara-se com o primeiro problema, a chave que ela tem é para uma porta que não passa nem seu dedinho mindinho. Isso a deixa desesperada, você logo conclui, não é mesmo? Não exatamente, Alice demonstra seu primeiro sinal de serenidade: ela encontra ali um álibi para seguir a diante: um líquido para reduzi-la de tamanho. Ai eu pergunto: quantas pessoas querem reduzir de “tamanho” na vida? Quantas pessoas abrem mão do que já possui para desfrutar de novas coisas? Isso é algo muito difícil, ainda mais no mundo em que vivemos onde quem tem mais, quem é mais forte é sempre o mais poderoso perante a sociedade. Pois sim, a mocinha toma o liquido e reduzida de tamanho passa pela porta a fora e da de cara com um belo jardim. Quando a gente pensa em reduzir de tamanho, surge logo a certeza de que o que virá adiante são coisas pequenas e sem valor, não, nem sempre é assim, ser pequeno muitas vezes é necessário, pois, só assim a gente consegue enxergar a grandiosidade que a vida tem, só assim a gente consegue olhar ao redor e ver que tem muitas outras coisas maiores que a gente. Nós somos tão “pequenos” perante as grandezas da vida!


O jardim, o mais inusitado jardim da face da terra convida Alice a desvendar seus mistérios e mudar de tamanho quantas vezes for preciso. Ela humildemente e sem pestanejar aceita tudo e continua a busca pelo coelho apressado. E nós o que temos a ver com esse coelho apressado? Olha, se analisarmos nós passamos dias e horas e horas e dias em busca desse coelho, corremos e corremos e corremos atrás desse objetivo que temos a alcançar. Corremos tanto e nem nos damos conta de quantas coisas encontramos no caminho, de quantas pessoas importantes estão nos amparando e ensinando porque temos que correr e correr para não perdermos de vista o nosso “coelho”. Parem, respirem e obsevem essas conquistas, pois se o coelho for nosso ele nos esperará mais adiante independente do quanto ficaremos ali apreciando as outras coisas. Nós o encontraremos sem pestanejar.

O que ela nem imaginava era que entrara em outro mundo. Um mundo incrível onde os animais podiam falar. Falava com rosas e outras formas animadas. Ali conheceu uma lagarta conselheira; um exército de cartas, contra o qual teria que combater; o gato alegre, sempre a sorrir, que aparecia e desaparecia; e o chapeleiro maluco. Quantas rosas nós encontramos no caminho, inúmeros exércitos para combatermos e lutarmos a cada amanhecer, aquele amigo alegre que mesmo presente e ausente, pertinho e distante existe para alegrar o nosso dia, ah o chapeleiro maluco, tão confuso, tão amigo e conselheiro sempre disposto a ajudar pequena e grande Alice: Chapeleiro, você me acha louca?

Chapeleiro: Louca, louquinha! Mas vou te contar um segredo: as melhores pessoas são.Ou seja, quem não quer um conselheiro desses? Eu tenho os meus e se conselho for bom te digo: PROCURE O SEU!

Quantas vezes acordamos e temos certeza de quem somos, mas ao longo dia mudamos de opnião: Alice retrucou, bastante timidamente: "Eu - eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento -pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então." Normalllllllllllllllllllllllll... absolutamente normal sentirmos isso. Somos volúveis mesmo, somos vuneraveis também, somos seres humanos e recheados de personas e mais personas. Porque temos que seguir em uma linha reta, tênue, quando na verdade queremos e somos tantas coisas. Afe, por isso decidi ser atriz, ser Karla só não me basta, quero ser Amelia, quero ser donzela, quero ser criança, quero ter esperança, quero dançar e cantar, pular e deitar, quero ser feliz e até mesmo chorar. Chato seria se fossemos sempre a mesma pessoa. Que bom que hoje me deito triste e amanha posso acordar absurdamente feliz! Ufa!!!

Nesse percurso mágico Alice se depara com suas próprias lagrimas trazendo para si malefícios absurdos, afinal ela estava tão grande agora a pouco e de repente encolheu de novo para pular mais uma etapa de sua jornada que nem se deu conta de que seu choro poderia afoga-la, ela diz:

Já disse isso para mim mesma diversas vezes: Gostaria de não ter chorado tanto! Parece que vou ser castigada por isso agora, afogando-me nas minhas próprias lágrimas!

Eita, nós deveríamos nos dar conta disso, não é mesmo? Lagrimas faz bem, tudo bem, lava a alma, mas às vezes cautela é de suma importância para não nos afogarmos em nossos exageros e desesperos. Talvez por isso não choro há séculos, não vou mentir que as vezes desejo uma lagrimazinha se quer percorrendo minha face, mas uma cachoeira prestes a me afundar e me anular? Ops, isso não, não! Passo sebo de cachorro nos lábios, uma Fátima nas unhas e sigo adiante!!!

Olha a baita lição de moral que esse coelho safado me deu: Alice pergunta: quanto tempo dura o eterno? O coelho responde: as vezes apenas um segundo. Verdade, um segundo é muito tempo, muitas vezes o suficiente para nos ensinar que nem tudo é para sempre, que o tempo não pode durar o tempo que nós queremos, pois tudo tem seu tempo. As histórias curtas também tem significado, assim disse o coelho para Karla Cajaiba.

Calma, calma e calma, quantas vezes precisei da calma e ela fugia de mim. Mas Alice ouviu: Ah, minha querida! Que isto lhe sirva de lição: nunca perca a sua calma! A calma é alma do negocio, entenda isso, sem calma a alma apodrece.

Penso como Alice: Como gostaria que as criaturas não se ofendessem tão facilmente
Com o tempo você se acostuma. — disse a Lagarta. Vou ser bem sincera, tá ai uma das coisas que não me acostumo, as ofensas desnecessárias que só inflamam as relações humanas, banalizando-as cada vez mais. Não concordo Largata. Nananinanão.

Alice diz: Não é que eu goste de complicar as coisas, elas é que gostam de ser complicadas comigo. Linda! Amo essa frase, de fato as coisas sempre se enrolam para meu lado... Curtos caminhos nunca foram minha primeira opção... Tentarei descomplicar os rumos do meu mar.

Ficou ali sentada, os olhos fechados, e quase acreditou estar no País das Maravilhas, embora soubesse que bastaria abri-los e tudo se transformaria em insípida realidade… Realidade, sobre a realidade costumamos dizer para nós mesmas e também para os outros que ela é dura. Quimicamente impossível afirmamos isso, afinal realidade é algo abstrato e nós não podemos mudar o sentido das coisas. Ou será que podemos e Real + idade pode muito bem significar, mudando a ordem das letras e eliminando outras, em IDEAL? Sim, pois ideal é que cada um viva a sua realidade. Então a minha real idade é viver o que me cabe nessa cidade.

Ah, falando em realidade, hoje ou amanhã você pode deparar-se com a seguinte questão: “Estou diminuindo de tamanho de novo”-disse Alice. Sim, você pode e deve diminuir de tamanho sem medo, afinal assim como a garotinha de Carroll você também encontrará cogumelos para te fazer aumentar de tamanho, nesse caso cabe a situação e a atual realidade você estar ou não maior do que deveria, cabe a ti escolher, ou não, o tamanho certo do cogumelo para não pecar na dose e sofrer as consequências a diante. Lembre-se das lagrimas exacerbadas da doce menina, elas quase à afundam. Sempre tem o amanhã, poupe, guarde-se e tudo chegará.

Alice, após sua viagem no mundo das maravilhas, voltou com a cuca fresca para tomar suas decisões, então mergulhe, se entoque, se jogue, navegue, erre, transcenda e ascenda todas as luzes do caminho porque assim fica mais fácil para encontrar cogumelos, enxergar o buraco das fechaduras, decifrar um gato, boiar em suas próprias lagrimas e assim sair ileso de uma queda de metros de altura!

Eu poderia passar horas descrevendo fatos e metáforas por ai a fora vistas e descritas no mágico mundo de Alice criado ou descrito por Carroll, mas me detenho a finalizar com alguns comentários ainda pertinentes a vida alheia. Voltando a carta ofertada gentilmente para Maria das Graças:


             “toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor, uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa media para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos uma droga ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões”. (p.296, 1996, Mendes, Paulo Campos).


            Não gosto de livros e palavras de autoajuda, serio, não gosto mesmo, essa historinha de ler esse tipo de livro para sair da pior nunca foi meu forte, o que eu gosto mesmo é de apreciar e analisar as diversas formas de artes que são capazes de nos curar e libertar. Quando sentir-se triste, leia, pinte, cante, dance, interprete, corra mais não morra. A vida é tão bela e têm tantos gatos, coelhos, rainhas, cartas, bules, jardins, chaves e portas para apreciarmos. Escrevi demais, não foi? Juro que só mais essa frase para finalizar: “a própria dor deve ter sua medida: é feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria das Graças”.

Por que eu escolhi essa obra de arte como resposta para minhas indagações? Ah, sim claro, digo: E lá tem motivos para escolher falar sobre essa menina que vive no mundo dos sonhos, da ilusão, da diversão, da fantasia, da magia, da alegria, das encolhidas e esticadas? Claro que não! Essa obra é fantástica, darei um jeito de diminuí-la de tamanho e coloca-la no bolso para que ela esteja sempre acessivel.

domingo, 10 de novembro de 2013

O que é do bem e faz bem!!!


Gosto da simplicidade dessas pessoas, expressas nas palmas, na face, na voz e no corpo. Gosto do barro, da alegria, da verdade e da religiosidade que eles carregam. O Terno de Reis é uma festa linda, linda porque é de verdade, porque carrega em si uma crença, uma luz, brilho, esperança, espiritualidade, cores, corpos dançantes, vibrantes e acima de tudo: reais!!! Nem que seja a realidade expressa de forma cênica, mas é viva, é vísceral, é do bem e faz bem. Vale a pena conferir esse vídeo e pisar nesse terreno apaixonante do universo dos brincantes!