segunda-feira, 30 de setembro de 2013



Os sinais surgem assim tão de repente
que duvido da minha mente 
ter atraído esses canais
Mas não posso mais pensar
que minha vida está sem mais
eu não posso estacionar 
nessas onda deste cais
Nesse instante pego os ais 
ponho todos nos locais 
pois lá adiante tem bem mais
Sendo assim, vou remando contra os tais 
pensamentos desleais. 

                                             Karla Cajaiba

domingo, 29 de setembro de 2013

“O som aniquila a grandeza do silêncio”.

 “O som aniquila a grandeza do silêncio”. Parto dessa definição sobre o silêncio, deixada como herança pelo ator, diretor e compositor Charles Chaplin, um dos maiores e renováveis homens do cinema mundial  para registrar aqui a minha indignação pela vida barulhenta que nos é imposta na sociedade atual, capitalista, mercadológica e fútil. Minha indignação parte do principio de que todo ser humano merece respeito. Todos nós temos direitos e deveres. Um desses direitos é o de usufruirmos do silêncio. Existem diversas leis espalhadas pelo país onde trata dessa questão perturbadora e que atinge milhares de brasileiros, sendo diariamente importunados pelo barulho alheio. Essas leis que aqui e acolá de nada servirá. Pois, essas benditas leis existem no papel, pois sou testemunha disso em carne e tímpano. Afinal, estou enfrentando essa saga do barulho salgado há meses. Denuncia aqui, denuncia ali e nada é resolvido. Já vimos recentemente nos noticiários vidas sendo tiradas por problemas entre vizinhos e a falta de respeito entre eles. Sabemos que existe um telefone para ligarmos a qualquer hora do dia e da noite para efetuarmos a denuncia e assim os intrusos serem punidos e multados. Pois, vos digo, na pratica nada disso é digno. Hoje após uma maratona de abuso sonoro percebi que a intrusa aqui sou eu. Que ou os outros vizinhos são surdos ou eu tenho uma sensibilidade absurda para ouvir o tal barulho, ou bagulho, afinal as músicas trazem em si “letras”, (se é que essas existem), de baixo escalão e de repudio. Sou diariamente invadida por essa baixeza, sendo meu sentimento repleto de tristeza ao deparar-me com tal situação. Sinto vergonha alheia, não pelo gosto musical, (quem sou eu para julgar a apreciação musical dessas criaturas), mas por serem seres humanos desprovidos de sensibilidade, de caráter, de consideração e acima de tudo respeito. Eles são incapazes de pensar no próximo, satisfazem-se acreditando que estão no direito de ouvir o som na altura que quiserem. E pode crer, nem lembram que ao redor existem outras pessoas que não compartilham de seus desejos. Sinto-me roubada, atordoada, entulhada, amedrontada, acuada e invadida dentro de meu próprio lar. Encontro-me diversas vezes refém e vitima dessas pessoas. Meu silêncio é roubado a cada amanhecer, a cada entardecer e anoitecer. É uma incógnita o momento em que terei paz aos meus ouvidos. O silencio é necessário na vida, faz bem para a alma, acalma, ampara. Nós já somos repelidos diariamente pelos sons de carros, de maquinas, de pessoas comunicando-se umas com as outras, o barulho das televisões que insistem em manter-se ligadas impedindo que escutemos mais ao amigo ao lado, ainda tem o barulho da buzina, o som da esquina e tantos outros. Porém esses sons já estão embutidos em nosso organismo, já estamos mais acostumados a ouvi-lós, a absolvê-los. Recentemente assisti ao filme O Som ao Redor, onde aborda questões como essa, um mãe de família que é atordoada em sua casa pelos latidos constates do cachorro do vizinho. Bia faz de tudo para livrar-se da situação, ela cria artifícios para afastar o barulho infernal produzido pelo cão, mas não tem muito êxito. Assim sou eu, diariamente a criar artifícios para combater o tal Som ao Redor, apropriando-me de travesseiros, tapa ouvidos, lacra vidros, CDs, dvs, mantras e até orações. Mas, confesso de nada adianta, só me resta seguir o velho e verdadeiro ditado popular: os incomodados que se mudem! Assim farei, juntarei meus cacarecos e partirei para um boteco, mas aqui não ficarei.




Minha trupe de sentimentos sobre a arte circense!

Outro dia uma amiga me perguntou o que eu sabia sobre os palhaços. Eu prontamente respondi: Odeio palhaços! Ela se assustou e ao mesmo tempo me perguntou o que eu sabia sobre eles, eu respondi que nada, que não era um assunto que me instigava e que nunca me interessei em pesquisar. Ela quis saber como eu formada em teatro não sabia nada a respeito desse gênero, logo me senti envergonhada e também preconceituosa, afinal o artista, mesmo que não goste de algo, deve sim obter informações a respeito de determinados assuntos, pois quem sabe um dia podemos precisar desse acervo memorial para algo efetivo. Enfim! Conversamos a respeito dos “caras pintadas” e nesse mesmo instante lembrei-me de um espetáculo que me chamou muita atenção há alguns anos em Salvador e o que eu havia escrito a respeito, o nome é O Sapato do Meu Tio.   O espetáculo trás em cena dois palhaços, o tio e o sobrinho. O tio ensina para ele sobre a arte circense. Ambos vivem na miséria, embora o tio ostente orgulho por um passado de fama e glória, do qual só restam os velhos cartazes. Os dois vivem como nômades, viajando de cidade em cidade, apresentando um simples espetáculo. O tio cada vez mais angustiado por não conseguir manter-se e ao sobrinho dignamente com seu trabalho, perde a estabilidade emocional por constatar a decadência de seu desempenho traduzida na diminuição dos aplausos e do publico crescente. No palco os interpretes vivem momentos de angústia, dor, alegria, tristezas, risos e lágrimas.  A linguagem é gestual, acompanhada de sons ininteligíveis. Na maior parte do tempo eles não expressam suas ideias verbalmente e quando o fazem, também não falam qualquer língua conhecida, comunicam-se através da blablação. Artes circenses, pantomima e habilidade como patinar, andar com perna-de-pau, truques de bater e apanhar, entre outros são os recursos utilizados na montagem do espetáculo.  Além dessas descrições visuais sobre o espetáculo eu também expus minhas impressões emocionais: A peça o sapato do meu tio é emocionante, como nunca tinha visto antes. Ela é capaz de nos tocar e nos fazer perceber como as coisas simples também têm sua beleza. O Sapato do meu Tio encanta por sua forma de criação simples e realista. O enredo trata da luta pela sobrevivência de um palhaço e seu sobrinho aprendiz através da arte. Ao ler sobre o que eu havia escrito sobre um espetáculo que traz em cena dois palhaços, lembrei-me de como sai do teatro aquele dia, encantada e maravilhada com o universo do clown, como os palhaços transmitem, sem esforço, suas emoções e como tudo aquilo era real por mais teatral que parecesse. Lembrei também dos palhaços que conheci na infância e do quanto eles eram catastrófico e criaram em mim uma barreira absurda ao ponto de me cegar por anos e anos e deixar de lado uma arte tão bonita de ver. O palhaço nunca mais será visto por mim de canto de olho, sempre estarei disposta a encara-lo frente a frente, permitindo reverenciar sua ingenuidade, fragilidade, lirismo e romantismo. O verdadeiro palhaço é capaz de nos roubar um sorriso, de fazer das nossas lagrimas um rio de emoção, de encher nossos olhos de brilho e colorido e trazer o seu coração expresso no vermelho grudado na ponta do nariz, de vestir-se com farroupilhas divertidas e abundantes e de nos entreter com um simples piscar de olhos, olhos da alma carregados de sensibilidade e amabilidade. Ah, já vi que não foi do nada que expus aqui minha ignorância a respeito do assunto, notei que como artista tenho algo em comum com os palhaços já que eles nunca representam, eles simplesmente são, estão sempre em sua essência e expondo o seu ridículo, por pior que ela seja. Aqui no blog também necessito dessas características, pois estou sempre dando a cara para bater e expondo meu olhar sobre o mundo. Sigo por aqui com minha trupe de sentimentos e um desejo absurdo de apreciar essa arte mais de perto, deixando de lado minha visão grotesca dos verdadeiros artistas circenses!!! 






sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Inspiração





Quando falta inspiração me corta o coração
fico a buscar na emoção
uma ação para meu pão. 

Karla Cajaiba

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Semente

Dentre tantos entres
deparei-me com a semente
foi assim tão de repente
suavemente eu gritei
entre a mente e a não mente
fico aqui suavemente percorrendo essa canção. 


                                                    Karla Cajaiba

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Um museu para encantar, até mar eu vi por lá!

Museu da gente Sergipana, esse é o nome do bendito lugar onde se conta e reconta as grandes histórias do menor estado brasileiro e até do lindo mar. Custei a visita-lo, já tinha ido a São Cristovão, Laranjeiras e Itabaiana, mas logo ali, tão pertinho eu não havia estado para poder me alegrar. Pois bem, tudo tem seu tempo. Cheguei ao museu com os minutos contados, uma sensação estranha de que eu precisava me apressar, assim como uma obra de arte requer tempo para aprecia-la  também seria naquele lugar. Decidi então curtir cada “brinquedo” sem olhar para o relógio as horas contar. Relaxei e comecei a brincar. Logo ali estava, uma feira montada em uma barraca nada pacata disposta a ludibriar. Mas, não era uma feira qualquer, estática e decorativa com os principais artesanatos e iguarias, prostrados aos olhos do publico, ali estava um vendedor pronto para interpelar e extrair de ti as mais esdrúxulas necessidades com um só objetivo: “uma moeda lá deixar”. Tem babosa pra cabelo, uma corrente pra espelho, uma dose de desejo e um amor para comprar. Foi assim que conheci seu Zé, o vendedor da feira da gente disposto e divertido querendo me alegrar. Sigo adiante e me deparo com um gigante, um espelho num lugar. Não, ele não ia contar para mim a estória da bela adormecida, não ia sair dali um homem a me dizer “não minha rainha”, logo entendi que existe sim alguém mais bonita do que eu, nem precisava perguntar: e daí que foram surgindo a rainha, a pastorinha, o bumba meu boi e Iaiá e muitos outros a dançar. Mas, uma coisa era preciso eu precisava me movimentar. Comecei a dar pulinhos e também a me agachar, as imagens logo assim roubavam meu lugar. Suei até cansar. Um microfone, em uma salinha me atraiu para cantar. Entrei apertadinha com os amigos de cá. As imagens ali surgiam e eu estava disposta a gritar. Num só fôlego eu contei a história de Catirina e pai Francisco para o povo escutar. Depois fui mostrar como a genética é forte e pode até perpetuar. Joguei-me foi no repente com o moço do outro lado, numa tela a rimar. E assim eu descobrir que até diversidade havia por lá. Num barquinho de madeira me sentei, e os olhos atrevidos juntaram-se aos ouvidos e não queriam sair de lá. Tinha pássaro, tinha mato, tinha areia e aruana dispostos a me ensinar. Até receita eu encontrei para assim deliciar. Num joguinho de macaco um cubo era jogado e assim como um tablado o cinema aparecia e ali eu aprendia sobre a reza do meu dia e o quanto ali se via uma gente a orar. A memória estava cheia, mas ali ainda cabia um cadinho de brincadeira para as caixinhas eu lembrar. As praças tinham nome e até os cavalinhos estavam ali para falar. Num labirinto do meu dia só me resta à cantoria que agora pela vida num deixará de me encantar. Viva o museu da gente sergipana. Ali eu ainda ei de voltar!!!










domingo, 22 de setembro de 2013




Aprendendo a Aprender

Aprendendo a florescer 

Resgatando meu saber 

Recebendo todo ser


                                         Karla Cajaiba

Ué, será que os "personagens" de Hopper estavam a esperar Godot?



“Esperando Godot” é uma peça escrita em 1952, por Samuel Beckett. A peça trata de diversos temas um deles é o conflito humano. Vladimir e Estragon dois vagabundos estão à espera de Godot. Eles estão à beira de uma estrada deserta, junto a uma árvore solitária.  Enquanto esperam Godot os dois vivem os mais diversos conflitos humanos, a solidão, a falta de esperança e de comunicação, o medo da morte, o poder, o silêncio, a relação com o tempo, etc. Todos esses conflitos são causados pela espera de alguém que ao menos sabem quem é, e que nunca chega.
Estragon diz “Nada acontece, ninguém vem, ninguém vai, é terrível”. (p. 83). O tempo passa lentamente, parece não se mover. Vladimir e Estragon estão anestesiados pela espera. Os dois procuram preencher o tempo com pequenas ações continuas. São essas pequenas ações que permitem eles se sentirem vivos.  É essa espera que preenche a vida deles, e ao mesmo tempo por não saberem quem é Godot e o que acontecerá quando ele chegar sentem medo dessa espera.
A relação entre Vladimir e Estragon é uma comunhão de vazios, eles estão ligados um ao outro, o teórico Flavio Rangel diz que eles podem ser face de uma mesma pessoa. Os dois têm os mesmos objetivos, esperar Godot. Apesar da necessidade do outro eles não sabem conviver, ao mesmo tempo em que querem se separar querem estar perto. Estragon diz “Não me toque! Não pergunte nada! Não fale nada! Fique comigo!”.
Godot seria uma metáfora para a sociedade, afinal todos nós estamos sempre esperando algo. Muitas vezes nem sabemos ao certo o que esperamos, mas cá estamos sempre em busca do nosso Godot.
Godot pode ser um emprego, um companheiro, um amor, um filho, um amigo, uma casa, uma viagem ou uma aquisição qualquer. A espera traz consigo uma série de problemas. Quando esperamos ou vivemos em função de algo como na situação de Vladimir e Estragon, ficamos ansiosos, preocupados, estressados, porque nós passamos por modificações físicas e psicológicas. A espera pode causar inúmeras consequências no ser humano como a inércia, a depressão, o mau humor, a ansiedade, a tristeza, a euforia e etc.
 Passamos tanto tempo a esperar Godot mesmo sem sabermos como é seu rosto e se quer seu verdadeiro nome, que esquecemos de viver a vida, dia após dia. A gente transforma cada amanhecer em uma espera constante desse ser ou desse ter. Por isso, assim como os dois personagens de Beckett, estamos mais tempos anestesiados pela espera do que vivenciamos o que temos a nossa frente. Quando na verdade precisamos nos dar conta de que a Godot pode não vir, pode não existir ou pode simplesmente estar ao nosso lado, bem pertinho e isso passar despercebido pela nossa cegueira e ansiedade de olhar par o mundo e para as pessoas de forma superficial e desatenta.

 A peça Esperando Godot, é uma incessante espera, é o desejo de renovação, é a esperança de dias melhores, de um mundo melhor e mais justo. Com tantas possibilidades de leitura o texto nos leva a diversos caminhos como alguns que citei acima, mas o que mais me chamou atenção é o comportamento humano diante da espera, principalmente pelo fato de não saber ao certo o que de fato está esperando, a imobilidade dos personagens, a escravidão que a espera causa neles. Apesar de não ser Teatro Realista, mas sim Teatro do Absurdo, é possível nos identificarmos com o conflito da peça. Esperando Godot, não segue uma lógica linear, não tem um começo, meio e fim. O monólogo de Lucky retrata essa desordenação: “Dada à existência tal como se depreende dos recentes trabalhos públicos (...)“ (p. 85). Esperando Godot é um clássico, é um texto indispensável para quem estuda o Teatro do Absurdo. A riqueza das falas e mistura de gêneros como a Comédia dell’Arte, os bufões da Idade Média, as personagens cômicas shakesperianas, o surrealismo, o Claw, estão presentes do inicio ao fim, enriquecendo ainda mais sua dramaturgia. Beckett sem dúvida é um grande trágico do século XX, pois descreve o absurdo da condição humana como ninguém. Por fim uma curiosidade e uma possibilidade, será que os "personagens" de Hopper estavam a esperar Godot?

Um brinquedo para alma.

As vezes é preciso entregar-se, vivenciar o luto, a dor, a saudade. Permitir que a vida arraste-nos pelos caminhos mais tortuosos, mais tensos e dramáticos. Uma hora o susto bate e você estará livre para voar e seguir adiante, fazendo das tuas dores um brinquedo para alma.








                                                                                         Karla Cajaiba


É preciso rezar, é preciso ter fé, para quem sabe se encontrar...


Um vazio
cheio de saudade
uma saudade vazia que vem lá do mar
já não basta a idade que vem da cidade
os barcos dançando nas ondas do mar
o mar escapando do barulho do vento
o vento insiste em cantar
deixando-me navegar.

Após um traço,um lapso, um laço Hoppiano transformei-me num oceano de paz!









A primeira vez que olhei para um desenho de Edward Hopper lembro-me do quanto aquela imagem me surpreendeu. Traços quase precisos, luzes um tanto reais, sombras que falam, olhares perdidos denunciando a mais densa solidão. O quadro ficava exposto no corredor da casa de minha tia. Eu passava por ele e ficava encantada, pensando o quanto aquele quadro falava. Ela havia me explicado as características do artista e sempre que eu me deparava com as obras de Hopper logo me lembrava daquele primeiro contato. Recentemente a vi ilustrando luminárias que estão a venda na loja de decoração Home Design. De imediato, não lembrava o nome de Hopper, mas lembrava das sensações deixadas por suas obras em minha memoria.
Hopper ilustra de forma precisa a solidão e estagnação humana perante a vida. Seu traços são impactantes. O ser humano e a solidão estão presentes e vivos em quase  todas as suas pinturas. Ao depararmos com essas imagens percebemos um silêncio e um vazio perturbador, a falta de comunicação entre os seres, a cidade imóvel, ora um olhar perdido e congelado em direção ao horizonte, ora as pessoas aparecem fazendo ações cotidianas, mas afogadas em si mesmas.
A luz presente nos traços de Hopper ultrapassa a fotografia e traduz a realidade. As sombras, as fumaças, as ondas do mar, os reflexos das lâmpadas, as nuvens, tudo isso parece estar em movimento. A luz mesmo sombria é viva e é através dela que toda atmosfera silenciosa e introspectiva se manifesta e se traduz.
Hopper mostra em seus traços o quanto nós podemos ser sós mesmo estando acompanhados, o quanto precisamos do silencio, o quanto a reflexão é importante e até inerente a humanidade. Hoje nossos olhos estão sempre fitados no horizonte, porém esse horizonte muitas vezes é a tela de um computador, o outro não está mais ao nosso lado fisicamente, como nos quadros de Hopper, mas sim virtualmente e mesmo através da comunicação digital percebemos no fim que estamos sós e num silêncio constante em busca de nosso eu, ou de nossos eu’s.
 Que os horizontes se tornem mais reais, que a nossa sombra reflita mais paz e que os nossos olhos enxerguem mais e mais. Após um traço,um lapso, um laço Hoppiano transformei-me num oceano de paz!



sábado, 21 de setembro de 2013

150 TEXTOS DRAMÁTICOS FUNDAMENTAIS PARA A FORMAÇÃO DE UM ALUNO DE ARTES CÊNICAS

por Celso Jr

1. Orestéia: Hagamêmnon, Coéforas e Eumênides – Ésquilo
2. Prometeu acorrentado – Ésquilo
3. Édipo Rei – Sófocles
4. Antígona – Sófocles
5. Medéia – Eurípides
6. Hipólito – Eurípides
7. As troianas – Eurípides
8. As aves – Aristófanes
9. Lisístrata – Aristófanes
10. Os dois Menecmos – Plauto
11. Aulularia (A comédia da panela) – Plauto
12. Hécira (A sogra) – Terêncio
13. Fedra – Sêneca
14. Auto da barca do inferno – Gil Vicente
15. A vida é sonho – Calderón de La Barca
16. Fuenteovejuna – Lope de Vega
17.
Dr. Fausto – Christopher Marlowe
18. Volpone – Ben Jonson
19. Hamlet – Shakespeare
20. Otelo – Shakespeare
21. Macbeth – Shakespeare
22. Rei Lear – Shakespeare
23. Romeu e Julieta – Shakespeare
24. Ricardo III – Shakespeare
25.
Henrique V – Shakespeare
26. Comédia dos erros – Shakespeare
27. Sonho de uma noite de verão – Shakespeare
28. Noite de reis – Shakespeare
29. Alegres comadres de Windsor – Shakespeare
30. A mandrágora – Maquiavel
31. Escola de mulheres – Molière
32. Médico à força – Molière
33. As preciosas ridículas – Molière
34. O avarento – Molière
35. O doente imaginário – Molière
36. Dom Juan – Molière
37. Fedra – Racine
38. O Cid – Corneille
39. O triunfo do amor – Pierre Marivaux
40. Arlequim – servidor de dois amos – Carlo Goldoni
41. As bodas de Fígaro – Beaumarchais
42.
Escola de maledicência – Richard Sheridan
43. Mary Stuart – Schiller
44. Fausto – Goethe
45.
A dama das camélias – Alexandre Dumas
46. Juiz de paz na roça – Martins Pena
47. Quem casa quer casa – Martins Pena
48. As desgraças de uma criança – Martins Pena
49. Lição de botânica – Machado de Assis
50. O inspetor geral – Nikolai Gogol
51. Casa de bonecas – Ibsen
52. Espectros – Ibsen
53. Peer Gynt – Ibsen
54. Senhorita Julia – Strindberg
55. O pai – Strindberg
56. Dança da morte – Strindberg
57. O sonho – Strindberg
58. Os pequenos burgueses – Gorki
59. A gaivota – Tchekhov
60. As três irmãs – Tchekhov
61. Tio Vânia – Tchekhov
62. O jardim das cerejeiras – Tchekhov
63. O pedido de casamento – Tchekhov
64. O males provocados pelo tabaco – Tchekhov
65. O pássaro azul – Maeterlinck
66. O despertar da primavera – Frank Wedekind
67. Lulu – Frank Wedekind
68. Ubu-Rei – Alfred Jarry
69. A importância de ser prudente – Oscar Wilde
70.
Cyrano de Bergerac – Ronstand
71. Baal – Bertolt Brecht
72. Galileu Galilei – Bertolt Brecht
73.
O mendigo ou O cachorro morto – Bertolt Brecht
74. A alma boa de Setsuan – Bertolt Brecht
75. Aquele que diz sim – Aquele que diz não – Bertolt Brecht
76. Seis personagens à procura de um autor – Luigi Pirandello
77. Desejo – Eugene O’Neill
78. Calígula – Albert Camus
79. O zoológico de vidro – Tennessee Williams
80. Um bonde chamado desejo – Tennessee Williams
81. A morte do caixeiro viajante – Arthur Miller
82. As bruxas de Salém – Arthur Miller
83. Nossa cidade – Thornton Wilder
84. A cantora careca –Eugène Ionesco
85. O rinoceronte – Eugène Ionesco
86. A lição – Eugène Ionesco
87. Esperando Godot ­– Samuel Beckett
88. Fim de partida – Samuel Beckett
89. Ato sem palavras – Samuel Beckett
90. Vai e vem – Samuel Beckett
91. A visita da velha senhora – Dürrenmatt
92. O balcão – Jean Genet
93. O arquiteto e o imperador da Assíria – Fernando Arrabal
94. Fando e Lis – Fernando Arrabal
95. Guernica – Fernando Arrabal
96. O rei da vela – Oswald de Andrade
97. A moratória – Jorge Andrade
98. Auto da Compadecida – Ariano Suassuna
99. Eles não usam black-tie – Gianfrancesco Guarnieri
100. Morte e vida severina – João Cabral de Mello Neto
101. Dois perdidos numa noite suja – Plínio Marcos
102. Rasga coração – Oduvaldo Viana Filho (Vianinha)
103. Pluft – o fantasminha – Maria Clara Machado
104. Vestido de noiva – Nélson Rodrigues
105. Álbum de família – Nélson Rodrigues
106. Senhora dos afogados – Nélson Rodrigues
107. O beijo no asfalto – Nélson Rodrigues
108. Toda nudez será castigada – Nélson Rodrigues
109. Os sete gatinhos – Nélson Rodrigues
110. A falecida – Nélson Rodrigues
111. Boca de Ouro – Nélson Rodrigues
112. Viúva, porém honesta – Nélson Rodrigues
113. Look back in anger (Geração em revolta) – John Osborne
114. A volta ao lar – Harold Pinter
115. Traição – Harold Pinter
116. A história do zoológico – Edward Albee
117. Três mulheres altas – Edward Albee
118. Saved – Edward Bond
119. Insulto ao público – Peter Handke
120. O menor quer ser tutor – Peter Handke
121. Marat/Sade – Peter Weiss
122. O marinheiro que perdeu as graças do mar – Yukio Mishima
123. O templo do pavilhão dourado – Yukio Mishima
124. Roberto Zucco – B. M. Koltés
125. Tango – Slawomir Mrozéck
126. Os alpinistas – Osvaldo Dragún
127. Medeamaterial – Heiner Müller
128. Hamletmáquina – Heiner Müller
129. Descrição de uma imagem – Heiner Müller
130. Longe demais – Caryl Churchill
131.
Cara de fogo – Marius Von Mayenburg
132. Shopping and fucking – Mark Ravenhill
133.
Um amor de Fedra – Sarah Kane
134. Psicose 4.48 – Sarah Kane
135. Rosenkrantz e Guildenstern estão mortos – Tom Stoppard
136. Simplesmente complicado – Thomas Bernhardt
137. Memória da água – Shelagh Stephenson
138. A prova – David Auburn
139. Suburbia – Eric Bogosian
140. Atentados – Martim Crimp
141. Budro – Bosco Brasil
142. Novas diretrizes em tempos de paz – Bosco Brasil
143. Intensa magia – Maria Adelaide Amaral
144. Fulaninha e D. Coisa – Noemi Marinho
145. Nada será como antes – Claudio Simões
146. O cego e o louco – Cláudia Barral
147. Bolero – Paulo Henrique Alcântara
148. Entropia – Rodrigo Nogueira
149. A dona da história – João Falcão
150. A estrela do lar – Mauro Rasi


Bonito de ver, ouvir e viver!


Elena e os cegos de minha vida...





Elena e os cegos de minha vida...


Aos 17 anos fui apresentada ao universo de José Saramago. Tudo parecia confuso, uma linguagem, ate então, inusitada para mim. Pensei em recuar, mas continuava a ler cada palavra de “Memorial do Convento”. Deliciava-me a cada página. Convivi dias com Baltazar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas, numa história de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia. Minha paixão pelo autor virou vício e foi assim que conheci “Ensaio sobre a cegueira”. Fiquei perplexa e abalada, me entregava no sofá de casa, chorosa e pensativa. Minha tia pedia para eu parar de ler e se culpava por se dar conta de que aquele podia não ser o momento ideal para tal leitura, tão forte, profunda e um tanto complexa. Mas eu não desisti, chorava a cada página, respirava, recuperava o fôlego e seguia. Criei para mim uma metáfora daquela estória, (ou seria mesmo uma história?). Associei tudo àquilo ao que eu estava vivendo naquele instante. Uma menina nascida e criada na cidade do interior, cercada de carinho, amor, zelo, vizinhos e amigos. Cercada por pequenos conflitos sociais, (além dos políticos, é claro, esses são difíceis em qualquer lugar desse país). De repente se depara com uma sociedade cruel, abarrotada de informações e cobranças diárias, não mais aquelas cobranças provenientes da idade, mas sim uma luta acirrada para sobreviver. Me dei conta que dali em diante não existia mais vida como antes e que naquele instante a guerra começaria. Um tanto cruel minha comparação, mas se racionalizarmos é bem isso. (Óbvio que bons momentos existem, mas a vida não é feita apenas de oba oba e comidinha na mesa). Saramago acabará de descrever o que eu enfrentaria dali para frente: Uma cegueira coletiva, onde poucos, ou raras pessoas se veem e se respeitam. Minha vida adulta estava apenas começando e eu estava sendo privilegiada de ganhar aquele manual de boas vindas à maturidade. Os anos passaram e a vida seguia, as imagens do livro percorriam meus pensamentos como algo corriqueiro, como acordar e escovar os dentes, se alimentar, tomar banho. Enfim, não esquecia cada imagem criada ao ler aquelas páginas. Eram imagens tão fortes e importantes para mim, às imagens eram orgânicas, não se diluíam. Quando de repente surge o filme “Ensaio sobre a cegueira”. Decidi que não assistiria. Para mim as imagens que eu tinha armazenado ao ler o livro já eram suficientes para prosseguir. No ultimo domingo fui ver o filme sobre a história de uma atriz que sonhava em ser artista de cinema. Uma história tão dramática e caótica da vida de um ser que apenas quer ser. Aquilo me tomou de um jeito, me tirando o fôlego, o ânimo e a esperança. Aquele filme me encheu de culpa, até as antigas vieram à tona, as novas decidiram se manifestar e os meus dias foram ficando pesados, tristes e tensos. Elena estava dentro de mim. Não, mas eu não podia carrega-la também, os cegos de Saramago já estavam aqui, não havia mais espaço para outro ser. Definitivamente Elena precisa partir. Petra também junto com sua mãe. Era muita gente, muita culpa, muita sombra para eu dar conta. Mas o que fazer? Tem dez anos que os cegos estão aqui, dentro de mim, penso neles, me indigno com as atitudes e crueldades, me emociono com eles, procuro ver a beleza que eles viram, que experimentaram, mas com Elena seria diferente, dessa vez não, eu não ia dar espaço para conviver com ela. Cheguei em casa após uma aula, onde Elena, mais uma vez em menos de uma semana, era assunto para mim e pensei: Hoje ela vai embora, não preciso guarda lá aqui. A única forma de tira lá de mim era reforçar a imagem dos cegos de Saramago. Decidi então que juntaria as minhas imagens e as do filme e eles ganhariam mais espaço em meus pensamentos, eles ficariam mais presentes em mim e Elena iria embora, desse jeito, bem sutil, nem precisaria expulsa la, ela partiria se dando conta de que aqui não havia mais espaço. Deitei-me no sofá, liguei a TV e dei play naquele filme gravado há pouco mais de um ano. Eu precisava recompor minhas imagens, ver o rosto daquela mulher, a única que enxergava em meio aquele caos e devaneio de Saramago. Ela era quem ia por para fora a tal Elena, a intrusa viera me perturbar minhas noites e os meus dias. E assim a cada gesto daquela mulher, a cada olhar, eu pensava: isso tudo já é suficiente para mim. Mas foi ai que tudo começou. Elena deixa de ganhar espaço para Petra penetrar meus pensamentos, olhava para o filme e Petra vinha a minha frente, pensei: devo ser louca ou estar louca, o que Petra tem a ver com isso agora? Lembrei que hoje eu soube o significado de seu nome e que aquilo havia mexido comigo e dado força para ela também penetrar meus pensamentos: rocha, pedra esse é o significado, o que explica muito de sua personalidade, nada frágil por sinal. Saramago também criou sua Pedra/Petra. Aquela mulher, a única que enxergava. Petra também foi à única que enxergava o mundo e as coisas ao seu redor. Porque a mãe fechou os olhos, Elena só enxergava a si própria, ou melhor não enxergava nem a ela mesma. Ela estava afogada demais em seus devaneios para ver quanta vida existia. A mulher de Saramago era doce, era leve, era amável. Acolheu a todos. Perdoou uma traição. Petra também se acolheu, Petra também se amou e segurou a barra da mãe. A mulher de Saramago foi tão forte, tão brava, tão serena que trouxe a visão de volta para os outros, ela devolveu a visão a cada um deles, mostrando que os olhos estão além da alma. Petra trouxe para o mundo a sua dor transformada em superação através da arte. Petra encanta a cada um de nós, pobres mortais com a beleza de ser leve e de amar! As mulheres, todas elas se fundiram em uma só, não tinha mais espaço para denominações, então decidi abortar os nomes e ficar com a imagem e a força que elas possuem. Eu descobri que sempre há espaços dentro da gente para mais sentimentos e também para dores. Petra e sua família saiu do meu estomago e seguiu para meus pensamentos junto aos cegos e a mulher de Saramago. Descobri que digeri la podia durar anos e que isso poderia me causar um mal estar constante. Ela em meus pensamentos torna-se mais leve, mais doce. Sinto-me mais serena e mais tranquila de que nada é definitivo. Nem precisa, pois tudo é um ciclo que gira e que volta, que dói e se cura, que entra e que sai, que permanece e encanta. Estou entulhada de imagens/ação!!! Ufa.



Bem eu... Se não fosse eu, não seria eu...


"A paz de estar em par com Deus"


O amor e suas facetas.




A vida é carregada de mistérios. Um deles e mais incrível é a maternidade. Ser mãe nunca foi algo simples para mim. Não que eu não ame meu filho, de forma alguma. Mas, principalmente pelo paradoxo que é ama-lo. Afinal se a gente ama porque precisamos agir muitas vezes como se não amassemos? Porque vem a vida e nos impõe situações das quais nos afastam de um ser que foi gerado em nossas entranhas e que nunca deveriam ficar longe de nós? Essa ideia de que geramos filhos para o mundo é muito cruel. Mas, ao mesmo tempo assumo que é algo inevitável, necessário e real. Pois bem, cá estou eu cinco anos após o nascimento do meu rebento. Sinto-me hoje como se algo fosse tirado de mim, como no dia do seu nascimento, a dor é a mesma e às vezes sinto até que é pior. Minhas escolhas tiraram de mim o barulho da respiração, o cheiro azedo do cangote, os chutes eternos no estômago, as histórias e os porquês ditos repetidamente, o trocar de letras ao pronunciar-se, o barulho das peripécias, a inquietude ao ver um filme, dentre tantas outras coisas. Um parto doloroso. Afinal abrir mão de tudo isso é desprender-se do bem mais precioso que a vida te deu. É abrir mão do sentimento mais verdadeiro que existe no universo. Hoje me sinto Medea, a mãe desnaturada que mata seus dois filhos em prol de sua vaidade, de seu ego. Você acha um absurdo à comparação? Não ache não, afinal cada segundo a menos ao lado do meu filho significa, já que o tempo não volta, poupá-lo de ser amado, é matar a possibilidade de um abraço, de um beijo, de um carinho e de uma palavra de conforto. Posso também comparar-me a corajosa Nora Helmans que descobre que tens o mundo ao seu redor após sair de um casamento frustrado e ter sido tratada durante anos como uma boneca por seu pai e pela sociedade, ela foge de casa deixando para trás não só sua vida, mas também seu filho. Ou seja, ela polpa aquela criança de tê-la por perto, pois quer ir em busca do seus ideais, dos seus novos objetivos. Será mesmo coragem a atitude dessa mulher? Fico a pensar. Ao mesmo tempo em que não posso fazer dessa distância maternal um devaneio constante como faz a mãe de Flores D’America, ela vive a gritar pelos filhos, não consegue trabalhar, comer, viver. Está sempre repleta de culpa e dor. Não, devaneios não! Posso até me expor num texto como esse, melodramático, mas tenho os pés no chão. Posso até questionar como se isso fosse a pior coisa do mundo, o que faz uma mãe estar longe do filho no dia do aniversário de cinco anos? Mas, devaneios não! Então, procurando respostas, seria o desejo de dar-lhe uma vida melhor, de oferecer futuramente o convívio ao lado de uma pessoa realizada profissionalmente, com uma ótima conta bancária, cheia de possibilidades e de histórias boas para contar? Ou seria melhor ele desfrutar de uma mãe que acorda todos os dias, certa de que não está completamente feliz e plena  e que sabe que ser mãe apenas não é o suficiente na vida? Sim, porque antes de ser mãe eu sou um ser humano e tenho meus próprios anseios. Mas, e a vida de meu filho fica como nessa vida? São tantas questões que permeiam meu dia e meus pensamentos nessa manhã que não preciso encontrar respostas imediatas, apenas quero escrever, registrar esse turbilhão de palavras que acordaram hoje comigo. Preciso entender que a vida é feita de escolhas e eu escolhi acordar hoje e não estar ao lado de Henrique. Escolhi estar aqui, vivendo outras coisas, priorizando o amanhã, o futuro. E se o futuro não existir? Se a vida for só o hoje? O hoje eu já perdi porque escolhi não estar ai. Amanha é outro dia e não mais o dia do seu aniversário. Amanhã até pode ser o dia de estar feliz, mas não deixa de ser outro dia. Deixando as lamúrias e lamentações de lado, reconheço que tenho um filho que sabe lidar com essas questões abordadas por mim de forma mais leve, mais serena. Com menos de cinco anos o pequeno Henrique já consegue sorrir mesmo eu estando longe, consegue viver, dançar, brincar, socializar-se e me dizer: -mãe, a gente vai ficar junto de novo, não se preocupe. Mesmo que ele questione minhas escolhas, mesmo que ele chore, ele me prova a cada dia que é melhor do que eu. Que mesmo tão pequeno consegue ser tão grande quando olha para a vida. Sinceramente sou muito sortuda mesmo. Ter um filho como o que eu tenho não é para qualquer um. Não, isso não é papo de mãe. Isso é uma reflexão seria a respeito de um ser humano de cinco anos que consegue ser superior a outro de vinte oito. Ele consegue entender, e ao mesmo tempo continuar vivendo, certo que hoje ele não tem a mãe ao lado dele fisicamente, mas que ele acorda sempre esperançoso de que esse dia há de chegar e que nós dois seremos muito felizes ainda lado a lado. Obrigada por existir meu pequeno e grande Henrique.

Chuva de borboletas em uma tarde de domingo.








Em 2011, numa tarde de domingo, sai com uns amigos a caminho do MAM em Salvador. Chovia muito naquela tarde e o museu, para nossa surpresa, estava fechado. Saímos de lá a procura de outras exposições, afinal o intuito era apreciar obras de arte. Chegamos ao museu geológico da Bahia e nos deparamos com a exposição do israelense David Gerstein, reconhecido em seu país como um dos grandes artistas de sua geração e conhecido mundialmente. Ao pesquisar sobre o que ele diz sobre a exposição Lifestyle encontrei essa definição: “estas obras não procuram oferecer julgamentos afiados, mas oferecem, frequentemente, minha perspectiva irônica como um observador exterior”. Ele refere-se ao ponto de vista que tem sobre o mundo de hoje e como as pessoas lidam com o consumo e a compulsão por compras e traduz esse universo por meio de borboletas. Ao chegarmos à exposição nos deparamos com um emaranhado de formas e pessoas transcritas em esculturas de metal, absurdamente coloridas e cheias de movimentos. São homens em bicicletas, casais envoltos a borboletas, bolsas transparentes com objetos visíveis, maquiagens, remédios, cartões de credito e por ai vai. Mas o que mais me chamou atenção na exposição foi o colorido e as obras de arte que são absurdamente vivas, é vivas! Porque elas transmitem movimentos, as pessoas parecem se mexer, você até consegue vê-las respirando de tão real que são. Não pelos desenhos serem feitos com perfeição, muito pelo contrário, os desenhos parecem rabiscos de um colegial, mas elas pulsam. Claro, isso vai depender da tua sensibilidade, você pode perfeitamente aprecia-las e não ter a mesma impressão que eu tive, isso é natural. Outro fator e o primordial para eu sentir vontade de escrever sobre o assunto foram as imagens do músicos, na sequência “Jazz and the city”. A paisagem é composta por prédios altos, iluminados, uma cidade viva permeia o cenário e envolto a ela alguns músicos carregando seus instrumentos tocam ávidos cada canção. Posso até ouvi-los tocando, as notas saem coloridas da bateria, do saxofone, da guitarra, do violino, do piano. Eles fecham os olhos, abaixam a cabeça, olham para o horizonte, olham para o céu e continuam a tocar, cheios de charme e de bossa. Daí pensei, Gerstein trás para seu trabalho artístico a impressão de um povo, de uma cultura e não deixa de lado a arte, o brilho, o colorido, a expressão impressa nos rostos desses músicos, o olhar apontado para o eu interior, algo forte de ver e ao mesmo tempo a cena flui com tamanha naturalidade que passaria horas ali a aprecia-los. Essa mesma impressão tive com a festa do Terno de Reis. Esse mesmo colorido, essa mesma emoção, viva, ativa, fluída, generosa, embebida de emoção. A cada nota traduzia-se um sentimento de um ser único, mas também um ser que faz parte de um todo, de um movimento, de um ritual coletivo. Lembrei-me das palmas, das danças, das roupas, da alegria. Em Geisten o cenário é outro, o barro não se faz presente, as folhas secas não compõem a cena, o artesanal não veste os músicos, mas ao mesmo tempo tanto o Terno quanto as obras de Gerstein possuem musicalidade, alegria, paixão, vida, cores, arte, sorrisos e talvez até os aplausos estejam ali, por trás dos prédios, em frente aos músicos, camuflados pela fumaça dos carros e pela movimentação peculiar de um dia trabalho. Gerstein é realmente um artista, pois mesmo descrevendo o cotidiano de forma irônica e criticando o comportamento de uma sociedade, ele consegue transcrever essas sombras num compasso de um arco Iris. Que venham as borboletas!!!

Impressões sobre Dog Ville.







Sobre Dog Ville

Dog Ville. Arrogância. Quanta arrogância. Quanto poder a arrogância possui. O amor não venceu. A arrogância predominou, matou, destruiu. Dog ville esvaiu-se em chamas. Dog ville é o retrato fiel da vida, das relações humanas. O homem se destrói a todo o momento. Ele próprio cria armadilhas para si. O homem acredita que consegue dominar-se e dominar. Quantas questões em dog ville. Uma historia recheada de sentimentos e ações. Um balde cheio, prestes a transbordar. Um passo e tudo está acabado. Um suspiro é suficiente para alterar a ordem das coisas. O sol, a lua, as flores, o inverno, a neve. Os corpos sujos. As reações de cada ser altera-se como o inicio da primavera, mas, entorpece-se com a chegada do outono. Petrifica-se com o olhar que só consegue ver o que está a sua frente. O outro é posto de escanteio assim como os galhos secos que caem das groselhas. Quando secam de nada servem. Quando florescem voltam a mesa para encantar e satisfizer os paladares. O menino que traduz tudo o que vê. Ele reproduz cada ação e entonação. Ele consegue ludibriar. Quem seria aquele menino. Qual o verdadeiro papel dele dentre os outros “personagens”? A mãe do menino seria a culpada por suas atitudes? A mãe é cega. Outra cega para eu contar a história. O médico que não consegue enxergar todo conhecimento que possui. Ele carrega as dores de seus pacientes. Reproduz as doenças e diagnóstico no próprio corpo. Embriaga-se de droga, rodeando sua sobrevivência uma eterna dependência da dor. O homem das maçãs. Frustrado, amargurado e corrompido. Ele inicia o ciclo dos abusos, da intromissão corporal de Grace. Ele consuma a penetração carnal dentre aqueles homens. Bruto, cansado e estúpido. Um pobre coitado. O carregador e solitário caminhoneiro. Sem teto, sem companhia ele vive a luz da lua. Grace dá-lhe de mãos beijadas, inocentemente, o argumento necessário para ele invadi-la mais a frente. Assim o fez. Tom. Parecia tão amável e apaixonado. A história remetia-me a um romance, com começo, meio e direito a final feliz. Onde o casal apaixona-se perdidamente pelo outro e casa-se no final. Poeta, filosofo ele conseguiu enganar-me perfeitamente. Fez-me acreditar que era o príncipe encantado como nos contos infantis. Mas não. Ele é seria fio condutor das relações. Ele tinha a carta nas mangas para por em risco toda aquela gente e a si próprio incluindo Grace. Tom é egoísta e machista. Tom nada ama a não ser o amanhã. Ele enforcou-se com as correntes de Dog Ville. Não havia amor.Grace é amparada, rejeitada, acolhida, reprimida, escravizada, amada, destruída, invadida, maltratada, abraçada, beijada, empurrada, escondida, escorraçada, apedrejada e literalmente acorrentada. Ela representa o mundo. Os seres, as dores, as lutas, a guerra, as atitudes, os sentimentos e por fim ela é quem decide o futuro de dog ville. De repente, inesperadamente, ela é posta num pedestal e o futuro de todos está em suas mãos. O jogo depende dela. Grace aparece como o retrato do “amor”. Dentre tantos motivos ela mostra-se forte. Serena, doce, amável, superior, condescendente ou apenas resignada? Grace chega a Dog Ville ou Dog Ville chega até Grace? Grace é descrita como arrogante. Porque arrogante? Não achei respostas. Arrogante por achar que é boa o suficiente para perdoar a todos e a si própria? Arrogante por acreditar piamente que é capaz sim de aceitar as pessoas como são? Arrogante por só ter chorado uma única vez na vida? Arrogante por seguir o caminho do bem? Arrogante porque afinal? Ela ia contra a definição do que é ser humano? Ser humano não é mesmo ser digno de piedade? Quem ali era humano? Grace ou os outros? Quem ali ditava as regras, Grace ou se pai? Grace vingou-se daquelas pessoas? Ou apenas deixou-se ludibriar pelo chefão? Ela provou ser sim humana e desmistificou a ideia de que o maniqueísmo não faz parte do ser humano? De fato uma certeza eu tenho, Grace não matou aquelas pessoas, nem mesmo Tom. Fisicamente ela segurava uma arma, apontava sobre sua cabeça, mas foi ele quem puxou o gatilho. Tom se mostrou diferente e quase como Grace convenceu o espectador. Acreditei que ele fosse como ela, que ele a amava, mas não, ele amava a si próprio e era vaidoso como o cego. Era homem como os outros homens. Era fraco como um verdadeiro e nítido humano. Grace seria uma miragem? Um bode expiatório daquela comunidade? Não sei, nem acharei respostas. Temos muitas vertentes para analisa-las. Não preciso de respostas. Se eu encontrar respostas sobre Dog Ville, terei desvendado o segredo da humanidade. Dog Ville trás em si questões muito peculiares e corriqueiras do ser humano. Ninguém é totalmente bom, nem totalmente má. As pessoas revelam-se a cada instante. Tudo pode ser modificado de acordo com o interesse de cada um. Conveniências. O ser que diz não precisar de ninguém, quando na verdade está o tempo inteiro escorado no outro. Subemerso. Escondido. Confuso. Cego.Terá sido por esse motivo que Saramago optou por metaforizar a guerra humana da sobrevivência através de uma sociedade cega? Será que todos nós não conseguimos mesmo enxergar a vida ao nosso redor? Sentir, amar, lutar, respirar e viver sem atirar sobre o outro tantos respingos que apenas nos cabem? Não sei. Só sei que mais uma vez os benditos cegos reaparecem em minhas histórias. Só nos resta o latido do Dog e a fumaça sobre a cidade.

Quando a moda faz d'ocê um ser poético.



Desde pequena sou vaidosa. Não desses seres fúteis que passam o dia e as horas pensando em comprar, vestir-se e embelezar-se. Não! Eu borbulhava de vontade de criar e recriar o que eu já possuía. Minha casa sempre foi repleta de tecidos, linhas, fitas, rendas, bordados e claro: costureiras. Minha avó sempre gostou de costurar e cresci rodeada desses aparatos mesmo sem nunca ter pedalado uma maquina de costura. Vivia a jogar as roupas no chão procurando desesperadamente por algo que fosse novo ou que eu pudesse transformar. Essa necessidade não estava apenas ligada a minha vaidade, mas sim a minha inquietude constante de reinventar o “mundo”. O conforto sempre esteve à frente de minhas escolhas diárias. Optava por roupas leves, artesanais, soltas, longas, fluidas. Vivia com as orelhas carregadas de brincos, o pescoço recheado de colares e os pés nunca foram suficientes para armazenar tantos sapatos. Não que eu tivesse muitos, mas os poucos que eu tinha já eram suficientes para adora-los e deseja-los por perto. Nunca me prendi a marca alguma, para mim o mais importante era estar bem num desses aparatos. Podia ser de couro, de plástico, de fita, mas se eu batesse o olho e gostasse já era. Ah, as bolsas, essas eram feitas de tecido por minha mãe, bolsa de couro era luxo e custava uma nota, por isso optava pelas artesanais, fora o charme e a criatividade de expor nos ombros as mais divertidas capangas no colégio. Cresci e me tornei adulta e a paixão pela moda aumentou. Não essa moda comercial, dessas que ditam regras, cores, modelos para que as pessoas saiam todas iguais pelas ruas, parecendo par de jarro. Para mim tudo tinha que ser diferente. Um corte irreverente, um tecido divertido, um detalhe sutil, mas ousado. A surpresa ainda estava por vir, veio a vida e meu deu a honra de trabalhar para Mara Mac Dowell uma das estilistas mais nobres do país. Talvez como sou uma pessoa cheia de paixões o universo decidiu realizar meu sonho de lidar com moda apenas como coadjuvante, afinal não dá para gente realizar todos os sonhos de uma vez. Se eu já tinha paixão por esse universo, depois desse contato eu desbravei minha imaginação. A cada coleção chegavam para mim verdadeiras obras de arte. Peças desenhadas e inspiradas em assuntos ambientais, sociais, literários e etc. Cada uma possuía uma história. Apaixonava-me a cada dia. Ali aprendi que as vestes tem uma simbologia, um ritual, por trás de cada roupa tem uma personalidade, um sentimento, um desejo. A roupa fala, grita, pede socorro, cumprimenta, espanta, encanta, alegra, entristece e até “ressuscita” um ser. Foi lá também que aprendi a conhecer o mundo, a viajar sem ao menos ter saído do lugar. A cada nova adepta a marca lá estava eu disposta a atender e também aprender. Criei relações inimagináveis com pessoas incríveis, inteligentes, fortes, amáveis, humanas. Respirei quatro anos esse ar agradável, perfumado e encantador. Eis o motivo por que exponho minha paixão pela moda nesse blog: a roupa não pelo simples prazer de ter, mas pelo simples prazer de fazer e acontecer. Sigo por aqui carregada de overs, carracos e amapós. Vamos lá!




 “E a lua surgiu. E era estranho que ela, assim tão pequena, tão triste, pudesse derramar sobre nós tanto de sua doce luz prateada”. (Tatiana, Pequenos Burgueses)