sábado, 21 de setembro de 2013

O amor e suas facetas.




A vida é carregada de mistérios. Um deles e mais incrível é a maternidade. Ser mãe nunca foi algo simples para mim. Não que eu não ame meu filho, de forma alguma. Mas, principalmente pelo paradoxo que é ama-lo. Afinal se a gente ama porque precisamos agir muitas vezes como se não amassemos? Porque vem a vida e nos impõe situações das quais nos afastam de um ser que foi gerado em nossas entranhas e que nunca deveriam ficar longe de nós? Essa ideia de que geramos filhos para o mundo é muito cruel. Mas, ao mesmo tempo assumo que é algo inevitável, necessário e real. Pois bem, cá estou eu cinco anos após o nascimento do meu rebento. Sinto-me hoje como se algo fosse tirado de mim, como no dia do seu nascimento, a dor é a mesma e às vezes sinto até que é pior. Minhas escolhas tiraram de mim o barulho da respiração, o cheiro azedo do cangote, os chutes eternos no estômago, as histórias e os porquês ditos repetidamente, o trocar de letras ao pronunciar-se, o barulho das peripécias, a inquietude ao ver um filme, dentre tantas outras coisas. Um parto doloroso. Afinal abrir mão de tudo isso é desprender-se do bem mais precioso que a vida te deu. É abrir mão do sentimento mais verdadeiro que existe no universo. Hoje me sinto Medea, a mãe desnaturada que mata seus dois filhos em prol de sua vaidade, de seu ego. Você acha um absurdo à comparação? Não ache não, afinal cada segundo a menos ao lado do meu filho significa, já que o tempo não volta, poupá-lo de ser amado, é matar a possibilidade de um abraço, de um beijo, de um carinho e de uma palavra de conforto. Posso também comparar-me a corajosa Nora Helmans que descobre que tens o mundo ao seu redor após sair de um casamento frustrado e ter sido tratada durante anos como uma boneca por seu pai e pela sociedade, ela foge de casa deixando para trás não só sua vida, mas também seu filho. Ou seja, ela polpa aquela criança de tê-la por perto, pois quer ir em busca do seus ideais, dos seus novos objetivos. Será mesmo coragem a atitude dessa mulher? Fico a pensar. Ao mesmo tempo em que não posso fazer dessa distância maternal um devaneio constante como faz a mãe de Flores D’America, ela vive a gritar pelos filhos, não consegue trabalhar, comer, viver. Está sempre repleta de culpa e dor. Não, devaneios não! Posso até me expor num texto como esse, melodramático, mas tenho os pés no chão. Posso até questionar como se isso fosse a pior coisa do mundo, o que faz uma mãe estar longe do filho no dia do aniversário de cinco anos? Mas, devaneios não! Então, procurando respostas, seria o desejo de dar-lhe uma vida melhor, de oferecer futuramente o convívio ao lado de uma pessoa realizada profissionalmente, com uma ótima conta bancária, cheia de possibilidades e de histórias boas para contar? Ou seria melhor ele desfrutar de uma mãe que acorda todos os dias, certa de que não está completamente feliz e plena  e que sabe que ser mãe apenas não é o suficiente na vida? Sim, porque antes de ser mãe eu sou um ser humano e tenho meus próprios anseios. Mas, e a vida de meu filho fica como nessa vida? São tantas questões que permeiam meu dia e meus pensamentos nessa manhã que não preciso encontrar respostas imediatas, apenas quero escrever, registrar esse turbilhão de palavras que acordaram hoje comigo. Preciso entender que a vida é feita de escolhas e eu escolhi acordar hoje e não estar ao lado de Henrique. Escolhi estar aqui, vivendo outras coisas, priorizando o amanhã, o futuro. E se o futuro não existir? Se a vida for só o hoje? O hoje eu já perdi porque escolhi não estar ai. Amanha é outro dia e não mais o dia do seu aniversário. Amanhã até pode ser o dia de estar feliz, mas não deixa de ser outro dia. Deixando as lamúrias e lamentações de lado, reconheço que tenho um filho que sabe lidar com essas questões abordadas por mim de forma mais leve, mais serena. Com menos de cinco anos o pequeno Henrique já consegue sorrir mesmo eu estando longe, consegue viver, dançar, brincar, socializar-se e me dizer: -mãe, a gente vai ficar junto de novo, não se preocupe. Mesmo que ele questione minhas escolhas, mesmo que ele chore, ele me prova a cada dia que é melhor do que eu. Que mesmo tão pequeno consegue ser tão grande quando olha para a vida. Sinceramente sou muito sortuda mesmo. Ter um filho como o que eu tenho não é para qualquer um. Não, isso não é papo de mãe. Isso é uma reflexão seria a respeito de um ser humano de cinco anos que consegue ser superior a outro de vinte oito. Ele consegue entender, e ao mesmo tempo continuar vivendo, certo que hoje ele não tem a mãe ao lado dele fisicamente, mas que ele acorda sempre esperançoso de que esse dia há de chegar e que nós dois seremos muito felizes ainda lado a lado. Obrigada por existir meu pequeno e grande Henrique.

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