Outro dia uma amiga me perguntou
o que eu sabia sobre os palhaços. Eu prontamente respondi: Odeio palhaços! Ela
se assustou e ao mesmo tempo me perguntou o que eu sabia sobre eles, eu
respondi que nada, que não era um assunto que me instigava e que nunca me
interessei em pesquisar. Ela quis saber como eu formada em teatro não sabia
nada a respeito desse gênero, logo me senti envergonhada e também preconceituosa,
afinal o artista, mesmo que não goste de algo, deve sim obter informações a
respeito de determinados assuntos, pois quem sabe um dia podemos precisar desse
acervo memorial para algo efetivo. Enfim! Conversamos a respeito dos “caras
pintadas” e nesse mesmo instante lembrei-me de um espetáculo que me chamou
muita atenção há alguns anos em Salvador e o que eu havia escrito a respeito, o
nome é O Sapato do Meu Tio. O espetáculo trás em cena dois palhaços, o tio
e o sobrinho. O tio ensina para ele sobre a arte circense. Ambos vivem na miséria,
embora o tio ostente orgulho por um passado de fama e glória, do qual só restam
os velhos cartazes. Os dois vivem como nômades, viajando de cidade em cidade,
apresentando um simples espetáculo. O tio cada vez mais angustiado por não
conseguir manter-se e ao sobrinho dignamente com seu trabalho, perde a
estabilidade emocional por constatar a decadência de seu desempenho traduzida
na diminuição dos aplausos e do publico crescente. No palco os interpretes
vivem momentos de angústia, dor, alegria, tristezas, risos e lágrimas. A linguagem é gestual, acompanhada de sons ininteligíveis.
Na maior parte do tempo eles não expressam suas ideias verbalmente e quando o
fazem, também não falam qualquer língua conhecida, comunicam-se através da
blablação. Artes circenses, pantomima e habilidade como patinar, andar com perna-de-pau,
truques de bater e apanhar, entre outros são os recursos utilizados na montagem
do espetáculo. Além dessas descrições visuais sobre o espetáculo eu também expus minhas impressões emocionais: A peça o sapato do meu tio é emocionante, como nunca tinha visto
antes. Ela é capaz de nos tocar e nos fazer perceber como as coisas simples
também têm sua beleza. O Sapato do meu Tio encanta por sua forma de criação
simples e realista. O enredo trata da luta pela sobrevivência de um palhaço e
seu sobrinho aprendiz através da arte. Ao ler sobre o que eu havia escrito
sobre um espetáculo que traz em cena dois palhaços, lembrei-me de como sai do
teatro aquele dia, encantada e maravilhada com o universo do clown, como os
palhaços transmitem, sem esforço, suas emoções e como tudo aquilo era real por
mais teatral que parecesse. Lembrei também dos palhaços que conheci na infância
e do quanto eles eram catastrófico e criaram em mim uma barreira absurda ao
ponto de me cegar por anos e anos e deixar de lado uma arte tão bonita de ver.
O palhaço nunca mais será visto por mim de canto de olho, sempre estarei
disposta a encara-lo frente a frente, permitindo reverenciar sua ingenuidade,
fragilidade, lirismo e romantismo. O verdadeiro palhaço é capaz de nos roubar
um sorriso, de fazer das nossas lagrimas um rio de emoção, de encher nossos
olhos de brilho e colorido e trazer o seu coração expresso no vermelho grudado
na ponta do nariz, de vestir-se com farroupilhas divertidas e abundantes e de
nos entreter com um simples piscar de olhos, olhos da alma carregados de
sensibilidade e amabilidade. Ah, já vi que não foi do nada que expus aqui minha
ignorância a respeito do assunto, notei que como artista tenho algo em comum
com os palhaços já que eles nunca representam, eles simplesmente são, estão
sempre em sua essência e expondo o seu ridículo, por pior que ela seja. Aqui no
blog também necessito dessas características, pois estou sempre dando a cara
para bater e expondo meu olhar sobre o mundo. Sigo por aqui com minha trupe de
sentimentos e um desejo absurdo de apreciar essa arte mais de perto, deixando
de lado minha visão grotesca dos verdadeiros artistas circenses!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário