“O
som aniquila a grandeza do
silêncio”. Parto dessa definição sobre o silêncio, deixada como herança pelo
ator, diretor e compositor Charles Chaplin, um dos maiores e renováveis homens
do cinema mundial para registrar aqui a
minha indignação pela vida barulhenta que nos é imposta na sociedade atual,
capitalista, mercadológica e fútil. Minha indignação parte do principio de que
todo ser humano merece respeito. Todos nós temos direitos e deveres. Um desses
direitos é o de usufruirmos do silêncio. Existem diversas leis espalhadas pelo
país onde trata dessa questão perturbadora e que atinge milhares de
brasileiros, sendo diariamente importunados pelo barulho alheio. Essas leis que
aqui e acolá de nada servirá. Pois, essas benditas leis existem no papel, pois sou
testemunha disso em carne e tímpano. Afinal, estou enfrentando essa saga do
barulho salgado há meses. Denuncia aqui, denuncia ali e nada é resolvido. Já
vimos recentemente nos noticiários vidas sendo tiradas por problemas entre
vizinhos e a falta de respeito entre eles. Sabemos que existe um telefone para
ligarmos a qualquer hora do dia e da noite para efetuarmos a denuncia e assim
os intrusos serem punidos e multados. Pois, vos digo, na pratica nada disso é
digno. Hoje após uma maratona de abuso sonoro percebi que a intrusa aqui sou
eu. Que ou os outros vizinhos são surdos ou eu tenho uma sensibilidade absurda para
ouvir o tal barulho, ou bagulho, afinal as músicas trazem em si “letras”, (se é
que essas existem), de baixo escalão e de repudio. Sou diariamente invadida por
essa baixeza, sendo meu sentimento repleto de tristeza ao deparar-me com tal
situação. Sinto vergonha alheia, não pelo gosto musical, (quem sou eu para
julgar a apreciação musical dessas criaturas), mas por serem seres humanos
desprovidos de sensibilidade, de caráter, de consideração e acima de tudo
respeito. Eles são incapazes de pensar no próximo, satisfazem-se acreditando
que estão no direito de ouvir o som na altura que quiserem. E pode crer, nem
lembram que ao redor existem outras pessoas que não compartilham de seus
desejos. Sinto-me roubada, atordoada, entulhada, amedrontada, acuada e invadida
dentro de meu próprio lar. Encontro-me diversas vezes refém e vitima dessas
pessoas. Meu silêncio é roubado a cada amanhecer, a cada entardecer e
anoitecer. É uma incógnita o momento em que terei paz aos meus ouvidos. O
silencio é necessário na vida, faz bem para a alma, acalma, ampara. Nós já
somos repelidos diariamente pelos sons de carros, de maquinas, de pessoas
comunicando-se umas com as outras, o barulho das televisões que insistem em
manter-se ligadas impedindo que escutemos mais ao amigo ao lado, ainda tem o
barulho da buzina, o som da esquina e tantos outros. Porém esses sons já estão
embutidos em nosso organismo, já estamos mais acostumados a ouvi-lós, a
absolvê-los. Recentemente assisti ao filme O Som ao Redor, onde aborda questões
como essa, um mãe de família que é atordoada em sua casa pelos latidos
constates do cachorro do vizinho. Bia faz de tudo para livrar-se da situação,
ela cria artifícios para afastar o barulho infernal produzido pelo cão, mas não
tem muito êxito. Assim sou eu, diariamente a criar artifícios para combater o
tal Som ao Redor, apropriando-me de travesseiros, tapa ouvidos, lacra vidros, CDs,
dvs, mantras e até orações. Mas, confesso de nada adianta, só me resta seguir o velho e
verdadeiro ditado popular: os incomodados que se mudem! Assim farei, juntarei
meus cacarecos e partirei para um boteco, mas aqui não ficarei.
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