domingo, 29 de setembro de 2013

“O som aniquila a grandeza do silêncio”.

 “O som aniquila a grandeza do silêncio”. Parto dessa definição sobre o silêncio, deixada como herança pelo ator, diretor e compositor Charles Chaplin, um dos maiores e renováveis homens do cinema mundial  para registrar aqui a minha indignação pela vida barulhenta que nos é imposta na sociedade atual, capitalista, mercadológica e fútil. Minha indignação parte do principio de que todo ser humano merece respeito. Todos nós temos direitos e deveres. Um desses direitos é o de usufruirmos do silêncio. Existem diversas leis espalhadas pelo país onde trata dessa questão perturbadora e que atinge milhares de brasileiros, sendo diariamente importunados pelo barulho alheio. Essas leis que aqui e acolá de nada servirá. Pois, essas benditas leis existem no papel, pois sou testemunha disso em carne e tímpano. Afinal, estou enfrentando essa saga do barulho salgado há meses. Denuncia aqui, denuncia ali e nada é resolvido. Já vimos recentemente nos noticiários vidas sendo tiradas por problemas entre vizinhos e a falta de respeito entre eles. Sabemos que existe um telefone para ligarmos a qualquer hora do dia e da noite para efetuarmos a denuncia e assim os intrusos serem punidos e multados. Pois, vos digo, na pratica nada disso é digno. Hoje após uma maratona de abuso sonoro percebi que a intrusa aqui sou eu. Que ou os outros vizinhos são surdos ou eu tenho uma sensibilidade absurda para ouvir o tal barulho, ou bagulho, afinal as músicas trazem em si “letras”, (se é que essas existem), de baixo escalão e de repudio. Sou diariamente invadida por essa baixeza, sendo meu sentimento repleto de tristeza ao deparar-me com tal situação. Sinto vergonha alheia, não pelo gosto musical, (quem sou eu para julgar a apreciação musical dessas criaturas), mas por serem seres humanos desprovidos de sensibilidade, de caráter, de consideração e acima de tudo respeito. Eles são incapazes de pensar no próximo, satisfazem-se acreditando que estão no direito de ouvir o som na altura que quiserem. E pode crer, nem lembram que ao redor existem outras pessoas que não compartilham de seus desejos. Sinto-me roubada, atordoada, entulhada, amedrontada, acuada e invadida dentro de meu próprio lar. Encontro-me diversas vezes refém e vitima dessas pessoas. Meu silêncio é roubado a cada amanhecer, a cada entardecer e anoitecer. É uma incógnita o momento em que terei paz aos meus ouvidos. O silencio é necessário na vida, faz bem para a alma, acalma, ampara. Nós já somos repelidos diariamente pelos sons de carros, de maquinas, de pessoas comunicando-se umas com as outras, o barulho das televisões que insistem em manter-se ligadas impedindo que escutemos mais ao amigo ao lado, ainda tem o barulho da buzina, o som da esquina e tantos outros. Porém esses sons já estão embutidos em nosso organismo, já estamos mais acostumados a ouvi-lós, a absolvê-los. Recentemente assisti ao filme O Som ao Redor, onde aborda questões como essa, um mãe de família que é atordoada em sua casa pelos latidos constates do cachorro do vizinho. Bia faz de tudo para livrar-se da situação, ela cria artifícios para afastar o barulho infernal produzido pelo cão, mas não tem muito êxito. Assim sou eu, diariamente a criar artifícios para combater o tal Som ao Redor, apropriando-me de travesseiros, tapa ouvidos, lacra vidros, CDs, dvs, mantras e até orações. Mas, confesso de nada adianta, só me resta seguir o velho e verdadeiro ditado popular: os incomodados que se mudem! Assim farei, juntarei meus cacarecos e partirei para um boteco, mas aqui não ficarei.




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