sábado, 21 de setembro de 2013

Chuva de borboletas em uma tarde de domingo.








Em 2011, numa tarde de domingo, sai com uns amigos a caminho do MAM em Salvador. Chovia muito naquela tarde e o museu, para nossa surpresa, estava fechado. Saímos de lá a procura de outras exposições, afinal o intuito era apreciar obras de arte. Chegamos ao museu geológico da Bahia e nos deparamos com a exposição do israelense David Gerstein, reconhecido em seu país como um dos grandes artistas de sua geração e conhecido mundialmente. Ao pesquisar sobre o que ele diz sobre a exposição Lifestyle encontrei essa definição: “estas obras não procuram oferecer julgamentos afiados, mas oferecem, frequentemente, minha perspectiva irônica como um observador exterior”. Ele refere-se ao ponto de vista que tem sobre o mundo de hoje e como as pessoas lidam com o consumo e a compulsão por compras e traduz esse universo por meio de borboletas. Ao chegarmos à exposição nos deparamos com um emaranhado de formas e pessoas transcritas em esculturas de metal, absurdamente coloridas e cheias de movimentos. São homens em bicicletas, casais envoltos a borboletas, bolsas transparentes com objetos visíveis, maquiagens, remédios, cartões de credito e por ai vai. Mas o que mais me chamou atenção na exposição foi o colorido e as obras de arte que são absurdamente vivas, é vivas! Porque elas transmitem movimentos, as pessoas parecem se mexer, você até consegue vê-las respirando de tão real que são. Não pelos desenhos serem feitos com perfeição, muito pelo contrário, os desenhos parecem rabiscos de um colegial, mas elas pulsam. Claro, isso vai depender da tua sensibilidade, você pode perfeitamente aprecia-las e não ter a mesma impressão que eu tive, isso é natural. Outro fator e o primordial para eu sentir vontade de escrever sobre o assunto foram as imagens do músicos, na sequência “Jazz and the city”. A paisagem é composta por prédios altos, iluminados, uma cidade viva permeia o cenário e envolto a ela alguns músicos carregando seus instrumentos tocam ávidos cada canção. Posso até ouvi-los tocando, as notas saem coloridas da bateria, do saxofone, da guitarra, do violino, do piano. Eles fecham os olhos, abaixam a cabeça, olham para o horizonte, olham para o céu e continuam a tocar, cheios de charme e de bossa. Daí pensei, Gerstein trás para seu trabalho artístico a impressão de um povo, de uma cultura e não deixa de lado a arte, o brilho, o colorido, a expressão impressa nos rostos desses músicos, o olhar apontado para o eu interior, algo forte de ver e ao mesmo tempo a cena flui com tamanha naturalidade que passaria horas ali a aprecia-los. Essa mesma impressão tive com a festa do Terno de Reis. Esse mesmo colorido, essa mesma emoção, viva, ativa, fluída, generosa, embebida de emoção. A cada nota traduzia-se um sentimento de um ser único, mas também um ser que faz parte de um todo, de um movimento, de um ritual coletivo. Lembrei-me das palmas, das danças, das roupas, da alegria. Em Geisten o cenário é outro, o barro não se faz presente, as folhas secas não compõem a cena, o artesanal não veste os músicos, mas ao mesmo tempo tanto o Terno quanto as obras de Gerstein possuem musicalidade, alegria, paixão, vida, cores, arte, sorrisos e talvez até os aplausos estejam ali, por trás dos prédios, em frente aos músicos, camuflados pela fumaça dos carros e pela movimentação peculiar de um dia trabalho. Gerstein é realmente um artista, pois mesmo descrevendo o cotidiano de forma irônica e criticando o comportamento de uma sociedade, ele consegue transcrever essas sombras num compasso de um arco Iris. Que venham as borboletas!!!

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