“Esperando
Godot” é uma peça escrita em 1952, por Samuel Beckett. A peça trata de diversos
temas um deles é o conflito humano. Vladimir e Estragon dois vagabundos estão à
espera de Godot. Eles estão à beira de uma estrada deserta, junto a uma árvore
solitária. Enquanto esperam Godot os
dois vivem os mais diversos conflitos humanos, a solidão, a falta de esperança
e de comunicação, o medo da morte, o poder, o silêncio, a relação com o tempo,
etc. Todos esses conflitos são causados pela espera de alguém que ao menos
sabem quem é, e que nunca chega.
Estragon diz
“Nada acontece, ninguém vem, ninguém vai, é terrível”. (p. 83). O tempo passa
lentamente, parece não se mover. Vladimir e Estragon estão anestesiados pela
espera. Os dois procuram preencher o tempo com pequenas ações continuas. São
essas pequenas ações que permitem eles se sentirem vivos. É essa espera que preenche a vida deles, e ao
mesmo tempo por não saberem quem é Godot e o que acontecerá quando ele chegar
sentem medo dessa espera.
A relação
entre Vladimir e Estragon é uma comunhão de vazios, eles estão ligados um ao
outro, o teórico Flavio Rangel diz que eles podem ser face de uma mesma pessoa.
Os dois têm os mesmos objetivos, esperar Godot. Apesar da necessidade do outro
eles não sabem conviver, ao mesmo tempo em que querem se separar querem estar
perto. Estragon diz “Não me toque! Não pergunte nada! Não fale nada! Fique
comigo!”.
Godot seria
uma metáfora para a sociedade, afinal todos nós estamos sempre esperando algo.
Muitas vezes nem sabemos ao certo o que esperamos, mas cá estamos sempre em
busca do nosso Godot.
Godot pode ser
um emprego, um companheiro, um amor, um filho, um amigo, uma casa, uma viagem
ou uma aquisição qualquer. A espera traz consigo uma série de problemas. Quando
esperamos ou vivemos em função de algo como na situação de Vladimir e Estragon,
ficamos ansiosos, preocupados, estressados, porque nós passamos por
modificações físicas e psicológicas. A espera pode causar inúmeras consequências
no ser humano como a inércia, a depressão, o mau humor, a ansiedade, a
tristeza, a euforia e etc.
Passamos tanto tempo a esperar Godot mesmo sem
sabermos como é seu rosto e se quer seu verdadeiro nome, que esquecemos de
viver a vida, dia após dia. A gente transforma cada amanhecer em uma espera
constante desse ser ou desse ter. Por isso, assim como os dois personagens de
Beckett, estamos mais tempos anestesiados pela espera do que vivenciamos o que temos
a nossa frente. Quando na verdade precisamos nos dar conta de que a Godot pode
não vir, pode não existir ou pode simplesmente estar ao nosso lado, bem
pertinho e isso passar despercebido pela nossa cegueira e ansiedade de olhar
par o mundo e para as pessoas de forma superficial e desatenta.
A peça Esperando
Godot, é uma incessante espera, é o desejo de renovação, é a esperança de
dias melhores, de um mundo melhor e mais justo. Com tantas possibilidades de
leitura o texto nos leva a diversos caminhos como alguns que citei acima, mas o
que mais me chamou atenção é o comportamento humano diante da espera,
principalmente pelo fato de não saber ao certo o que de fato está esperando, a
imobilidade dos personagens, a escravidão que a espera causa neles. Apesar de
não ser Teatro Realista, mas sim Teatro do Absurdo, é possível nos identificarmos
com o conflito da peça. Esperando Godot, não
segue uma lógica linear, não tem um começo, meio e fim. O monólogo de Lucky
retrata essa desordenação: “Dada à existência tal como se depreende dos
recentes trabalhos públicos (...)“ (p. 85). Esperando
Godot é um clássico, é um texto
indispensável para quem estuda o Teatro do Absurdo. A riqueza das falas e
mistura de gêneros como a Comédia dell’Arte, os bufões da Idade Média, as
personagens cômicas shakesperianas, o surrealismo, o Claw, estão presentes do
inicio ao fim, enriquecendo ainda mais sua dramaturgia. Beckett sem dúvida é um
grande trágico do século XX, pois descreve o absurdo da condição humana como
ninguém. Por fim uma curiosidade e uma possibilidade, será que os "personagens" de Hopper estavam a esperar Godot?
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