sábado, 21 de setembro de 2013

Impressões sobre Dog Ville.







Sobre Dog Ville

Dog Ville. Arrogância. Quanta arrogância. Quanto poder a arrogância possui. O amor não venceu. A arrogância predominou, matou, destruiu. Dog ville esvaiu-se em chamas. Dog ville é o retrato fiel da vida, das relações humanas. O homem se destrói a todo o momento. Ele próprio cria armadilhas para si. O homem acredita que consegue dominar-se e dominar. Quantas questões em dog ville. Uma historia recheada de sentimentos e ações. Um balde cheio, prestes a transbordar. Um passo e tudo está acabado. Um suspiro é suficiente para alterar a ordem das coisas. O sol, a lua, as flores, o inverno, a neve. Os corpos sujos. As reações de cada ser altera-se como o inicio da primavera, mas, entorpece-se com a chegada do outono. Petrifica-se com o olhar que só consegue ver o que está a sua frente. O outro é posto de escanteio assim como os galhos secos que caem das groselhas. Quando secam de nada servem. Quando florescem voltam a mesa para encantar e satisfizer os paladares. O menino que traduz tudo o que vê. Ele reproduz cada ação e entonação. Ele consegue ludibriar. Quem seria aquele menino. Qual o verdadeiro papel dele dentre os outros “personagens”? A mãe do menino seria a culpada por suas atitudes? A mãe é cega. Outra cega para eu contar a história. O médico que não consegue enxergar todo conhecimento que possui. Ele carrega as dores de seus pacientes. Reproduz as doenças e diagnóstico no próprio corpo. Embriaga-se de droga, rodeando sua sobrevivência uma eterna dependência da dor. O homem das maçãs. Frustrado, amargurado e corrompido. Ele inicia o ciclo dos abusos, da intromissão corporal de Grace. Ele consuma a penetração carnal dentre aqueles homens. Bruto, cansado e estúpido. Um pobre coitado. O carregador e solitário caminhoneiro. Sem teto, sem companhia ele vive a luz da lua. Grace dá-lhe de mãos beijadas, inocentemente, o argumento necessário para ele invadi-la mais a frente. Assim o fez. Tom. Parecia tão amável e apaixonado. A história remetia-me a um romance, com começo, meio e direito a final feliz. Onde o casal apaixona-se perdidamente pelo outro e casa-se no final. Poeta, filosofo ele conseguiu enganar-me perfeitamente. Fez-me acreditar que era o príncipe encantado como nos contos infantis. Mas não. Ele é seria fio condutor das relações. Ele tinha a carta nas mangas para por em risco toda aquela gente e a si próprio incluindo Grace. Tom é egoísta e machista. Tom nada ama a não ser o amanhã. Ele enforcou-se com as correntes de Dog Ville. Não havia amor.Grace é amparada, rejeitada, acolhida, reprimida, escravizada, amada, destruída, invadida, maltratada, abraçada, beijada, empurrada, escondida, escorraçada, apedrejada e literalmente acorrentada. Ela representa o mundo. Os seres, as dores, as lutas, a guerra, as atitudes, os sentimentos e por fim ela é quem decide o futuro de dog ville. De repente, inesperadamente, ela é posta num pedestal e o futuro de todos está em suas mãos. O jogo depende dela. Grace aparece como o retrato do “amor”. Dentre tantos motivos ela mostra-se forte. Serena, doce, amável, superior, condescendente ou apenas resignada? Grace chega a Dog Ville ou Dog Ville chega até Grace? Grace é descrita como arrogante. Porque arrogante? Não achei respostas. Arrogante por achar que é boa o suficiente para perdoar a todos e a si própria? Arrogante por acreditar piamente que é capaz sim de aceitar as pessoas como são? Arrogante por só ter chorado uma única vez na vida? Arrogante por seguir o caminho do bem? Arrogante porque afinal? Ela ia contra a definição do que é ser humano? Ser humano não é mesmo ser digno de piedade? Quem ali era humano? Grace ou os outros? Quem ali ditava as regras, Grace ou se pai? Grace vingou-se daquelas pessoas? Ou apenas deixou-se ludibriar pelo chefão? Ela provou ser sim humana e desmistificou a ideia de que o maniqueísmo não faz parte do ser humano? De fato uma certeza eu tenho, Grace não matou aquelas pessoas, nem mesmo Tom. Fisicamente ela segurava uma arma, apontava sobre sua cabeça, mas foi ele quem puxou o gatilho. Tom se mostrou diferente e quase como Grace convenceu o espectador. Acreditei que ele fosse como ela, que ele a amava, mas não, ele amava a si próprio e era vaidoso como o cego. Era homem como os outros homens. Era fraco como um verdadeiro e nítido humano. Grace seria uma miragem? Um bode expiatório daquela comunidade? Não sei, nem acharei respostas. Temos muitas vertentes para analisa-las. Não preciso de respostas. Se eu encontrar respostas sobre Dog Ville, terei desvendado o segredo da humanidade. Dog Ville trás em si questões muito peculiares e corriqueiras do ser humano. Ninguém é totalmente bom, nem totalmente má. As pessoas revelam-se a cada instante. Tudo pode ser modificado de acordo com o interesse de cada um. Conveniências. O ser que diz não precisar de ninguém, quando na verdade está o tempo inteiro escorado no outro. Subemerso. Escondido. Confuso. Cego.Terá sido por esse motivo que Saramago optou por metaforizar a guerra humana da sobrevivência através de uma sociedade cega? Será que todos nós não conseguimos mesmo enxergar a vida ao nosso redor? Sentir, amar, lutar, respirar e viver sem atirar sobre o outro tantos respingos que apenas nos cabem? Não sei. Só sei que mais uma vez os benditos cegos reaparecem em minhas histórias. Só nos resta o latido do Dog e a fumaça sobre a cidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário